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CLÓVIS ROSSI
É duro ser latino
MIAMI - Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores lançaram uma "Carta ao Povo Brasileiro" (na verdade, dirigida aos mercados financeiros e instituições internacionais) para jurar que irão manter o
superávit fiscal acertado entre o governo FHC e o Fundo Monetário Internacional, que irão preservar as
tais metas de inflação e que não irão
dar calotes nas dívidas.
Não satisfeito, Lula reiterou tais
compromissos depois de seu encontro
de agosto com o presidente Fernando
Henrique, no Palácio do Planalto.
Tudo certo, então? Nada. Nos dois
dias de duração da Conferência das
Américas, organizada pelo jornal
"The Miami Herald", para a qual este repórter foi convidado, de cada
duas perguntas uma era sobre o "default" (calote) do Brasil.
O público presente era formado por
autoridades governamentais (entre
as quais presidentes, como o equatoriano Gustavo Noboa e o peruano
Alejandro Toledo), empresários, economistas, gente de mercado, acadêmicos e, claro, jornalistas.
Esse pessoal continua achando que
o PT vai dar o calote. Tanto há essa
expectativa difusa e generalizada
que Otto Reich, o subsecretário de Estado para o hemisfério ocidental
(leia-se América Latina), admitiu
que o governo norte-americano tem
"planos de contingência" para um
"default" do Brasil de Lula.
Só não revelou, como é óbvio, qual
é o plano.
Se serve de consolo para Lula e para
os petistas, também o presidente colombiano, Álvaro Uribe, teve de usar
parte de seu discurso, via teleconferência, para o público reunido em
Miami para desfazer os temores de
calote da Colômbia (um país que, ao
contrário do Brasil, não tem histórico
de dar beiço nos credores).
No almoço, tocou-me sentar ao lado de um empresário equatoriano,
Luís Ortega, que, para variar, falou
do "default". Mencionei a "Carta" e
os compromissos publicamente assumidos. Ortega não se rendeu: "É, mas
o passado deles... Só o futuro dirá se
resgata o passado ou não".
É duro ser latino-americano.
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