São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

É duro ser latino

MIAMI - Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores lançaram uma "Carta ao Povo Brasileiro" (na verdade, dirigida aos mercados financeiros e instituições internacionais) para jurar que irão manter o superávit fiscal acertado entre o governo FHC e o Fundo Monetário Internacional, que irão preservar as tais metas de inflação e que não irão dar calotes nas dívidas.
Não satisfeito, Lula reiterou tais compromissos depois de seu encontro de agosto com o presidente Fernando Henrique, no Palácio do Planalto.
Tudo certo, então? Nada. Nos dois dias de duração da Conferência das Américas, organizada pelo jornal "The Miami Herald", para a qual este repórter foi convidado, de cada duas perguntas uma era sobre o "default" (calote) do Brasil.
O público presente era formado por autoridades governamentais (entre as quais presidentes, como o equatoriano Gustavo Noboa e o peruano Alejandro Toledo), empresários, economistas, gente de mercado, acadêmicos e, claro, jornalistas.
Esse pessoal continua achando que o PT vai dar o calote. Tanto há essa expectativa difusa e generalizada que Otto Reich, o subsecretário de Estado para o hemisfério ocidental (leia-se América Latina), admitiu que o governo norte-americano tem "planos de contingência" para um "default" do Brasil de Lula.
Só não revelou, como é óbvio, qual é o plano.
Se serve de consolo para Lula e para os petistas, também o presidente colombiano, Álvaro Uribe, teve de usar parte de seu discurso, via teleconferência, para o público reunido em Miami para desfazer os temores de calote da Colômbia (um país que, ao contrário do Brasil, não tem histórico de dar beiço nos credores).
No almoço, tocou-me sentar ao lado de um empresário equatoriano, Luís Ortega, que, para variar, falou do "default". Mencionei a "Carta" e os compromissos publicamente assumidos. Ortega não se rendeu: "É, mas o passado deles... Só o futuro dirá se resgata o passado ou não".
É duro ser latino-americano.


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