São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

As alavancas do PT

BRASÍLIA - É impossível encontrar um petista pessimista sobre a composição de uma maioria na Câmara, no caso de uma vitória de Lula.
A soma algébrica das bancadas que a direção do PT espera ter com facilidade é de 219 deputados. Estão nessa conta, além dos 91 deputados petistas eleitos, os seguintes partidos: PC do B, PDT, PL, PPS, PSB, PMN, PTB e PV.
Seria um bloco fragmentado. Ao todo, nove partidos. Nunca se viu algo assim nos anos FHC. Algumas siglas médias ou pequenas preferem atuar sozinhas. Valorizam assim o escambo na hora das negociações.
A direção do PT acha que será diferente num eventual governo Lula. O partido chegará ao poder tendo de preencher mais de 5.000 cargos importantes. A força da caneta no primeiro mês operará milagres.
Com FHC foi diferente. Ao tomar posse em 1995, o tucano tinha ao seu lado partidos que já estavam no poder. Lula chegará com uma tropa nova. As siglas pequenas e médias serão seduzidas pelos cargos -ou, no eufemismo petista, "serão convidadas a governar junto com o PT".
Se der certo esse bloco de nove partidos, o passo seguinte será perseguir uma das quatro siglas fernandistas tradicionais para ajudar no governo Lula: PFL, PPB, PMDB e PSDB. Só uma é considerada viável para uma aliança institucional -o PMDB.
Com o PMDB dando apoio formal, subiria para 293 o número de cadeiras lulistas na Câmara, pelo menos em teoria. O PT dependeria ainda de várias defecções em partidos adjacentes para obter o quórum constitucional de 308 -que, na visão otimista petista, viriam por gravidade.
Essa é a conta petista para as possíveis alavancas de Lula no Congresso. Pode dar certo. Ou não. O sucesso da estratégia depende de dois pontos principais. Primeiro, um loteamento eficiente de cargos (pelo qual o PT sentirá como nunca o peso de ser vidraça). Segundo, o estado da economia do país. Se o rumo continuar ladeira abaixo, cargos serão muito pouco para atrair votos de deputados.


Texto Anterior: Miami - Clóvis Rossi: É duro ser latino
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Jimmy Carter
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.