São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Especulação, déficits ou conspiração? ROBERTO LUIS TROSTER
O dólar batendo recordes sucessivos de cotação preocupa a todos.
Enquanto uma alta moderada tem alguns efeitos positivos, pois incentiva exportações e desestimula importações,
melhorando as nossas contas externas,
uma alta exagerada tem efeitos perversos sobre juros, produtividade, inflação
e investimentos, algo que não interessa
a ninguém.
O ponto importante é que a causa primária de todo o processo de alta, que é a percepção externa, está equivocada, pois os fundamentos brasileiros são bons. O Brasil tem um ajuste externo que surpreende positivamente a todos; para 2002 devemos ter um superávit comercial da ordem de US$ 10 bilhões -literalmente o dobro da projeção do início do ano-, temos reservas externas suficientes para os compromissos externos de curto prazo, um acordo com o FMI que garante fundos para médio prazo e um compromisso firme dos presidenciáveis com cumprimento de contratos e com princípios sólidos de políticas fiscal, cambial e monetária. Os mercados futuros apontam para um dólar declinante e as projeções da Febraban mostram um dólar muito abaixo do atual patamar. Todavia a pressão no mercado cambial, por conta do tamanho dos vencimentos este mês, levou a cotação externa a um novo patamar. Para enfrentar a alta, o BC elevou os compulsórios em R$ 14 bilhões, de forma a tirar liquidez do mercado, fazendo com que o real ficasse mais escasso, e subiu a taxa Selic de 18% para 21% ao ano, com o objetivo de pressionar para baixo a divisa norte-americana. Na frente externa, o Banco Central e a Febraban fizeram apresentações a analistas internacionais mostrando que as nossas perspectivas econômicas são boas e consistentes. Estamos vivendo um momento muito peculiar e difícil, enfrentando um equilíbrio econômico perverso por uma combinação inusitada de fatores conjunturais, mas passageira. Os mercados têm um comportamento atípico dada a anormalidade do momento. O Brasil já conseguiu equacionar seu déficit externo, seu déficit fiscal e seu déficit de democracia. Falta apenas superar o déficit mais importante, o déficit de confiança, o que é uma missão de todos nós. Roberto Luis Troster, 51, doutor em economia pela USP, é economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Olavo de Carvalho: Poses e trejeitos Índice |
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