São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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Natal sem fome

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Pelo sexto ano consecutivo vai para as ruas a campanha do Natal sem Fome. Criada pelo sociólogo e benemérito Herbert de Souza, o Betinho, morto há pouco mais de um ano, a campanha procura mobilizar as pessoas para tentar fazer com que uma boa parte daqueles que nada têm pelo menos possa comer alguma coisa no dia ou na noite de Natal.
Os comitês da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida (também concepção de Betinho) irão recolher em todo o país os alimentos que vão minimizar o drama de uma parcela dos milhões de brasileiros que vivem na miséria. Que tenham alguma coisa para comer naquele dia tão carregado de símbolos de solidariedade e amor ao próximo.
A novidade deste ano é o lançamento de um CD, idealizado por Daniel de Souza, filho de Betinho, que reúne cantores e cantoras famosos com personalidades de outras áreas do mundo artístico, em parcerias inusitadas. O objetivo, claro, é arrecadar mais fundos para resolver a equação: dinheiro + alimento = menos fome. Ainda que apenas no Natal.

Ingenuidade ou hipocrisia? Essa a dúvida que surge quando se analisa o "mea-culpa" público do publicitário Chico Malfitani, marqueteiro arrependido de Francisco Rossi, esse neoparceiro de Paulo Maluf no segundo turno da eleição paulista.
Só Malfitani não sabia que isso poderia acontecer?
Se a moda pega, amanhã teremos uma penca de profissionais de propaganda na fila do arrependimento.
Um porque anunciou cigarros e de repente "descobriu" que causam câncer. Outro porque ajudou a vender bebida alcoólica e agora está "preocupado" com o alcoolismo. Um terceiro porque exaltou as "qualidades" de uma certa marca de combustível e agora sente peso na consciência porque sabe que, no Brasil, todo combustível é ruim igual.
Ora, para sobreviver em seu próprio meio, publicitário tem de ser esperto o suficiente para não acreditar em mentira de político ou de um produto.
Se finge que acredita, cala-se para sempre.



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