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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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OS MOTIVOS DO BOM SALDO

A valorização do real de janeiro a setembro, estimada em 19,8% pelo Banco Central, não afetou até aqui a balança comercial brasileira, que tem apresentado resultados expressivos, atingindo US$ 20,7 bilhões até a primeira semana de novembro -o dobro do ano anterior. Registrou-se nesse período um crescimento de 23,6% nas exportações -enquanto as importações aumentaram apenas 2,8%.
Certamente, dois dos fatores determinantes para esse comportamento foram a contração da demanda doméstica e a queda na renda dos consumidores. O mercado externo se transformou em fonte de demanda para vários segmentos da indústria de bens de consumo, como o complexo automobilístico, e de bens intermediários, na área de siderurgia, metalurgia e papel e celulose.
O crescimento das economias norte-americana, chinesa e argentina, os principais mercados para os produtos brasileiros, também contribuiu para sustentar os preços e as vendas externas. O acelerado crescimento chinês tem sido fundamental para o aumento da cotação de metais como ferro, alumínio, cobre e níquel.
Há, portanto, fatores conjunturais internos e externos que explicam parte do excelente saldo comercial brasileiro. O fator mais relevante, no entanto, é o avanço das exportações do setor de agronegócios. Em torno de 82% do superávit tem sido garantido pelo agronegócio. Esse setor passou por acelerado processo de modernização, ganho de escala e avanço tecnológico -com importante auxílio de pesquisas da Embrapa. O aumento de produtividade permitiu uma expansão média de 15,7% no volume exportado, aproveitando um avanço de 10,5% nos preços internacionais dos produtos vendidos pelo país. Com isso, houve uma elevação de 27,8% no valor das exportações do setor até setembro de 2003 em comparação com o mesmo período de 2002, segundo pesquisa da consultoria MB Associados.
No complexo da soja, por exemplo, as quantidades exportadas em grão cresceram 27,6%, enquanto os preços subiram 14,4% e o valor total aumentou 46% no mesmo período. Esse padrão se repetiu no mercado de café, celulose, fumo, couro, carnes e açúcar cristal.
Em princípio, mudanças na conjuntura doméstica e externa poderiam alterar significativamente o quadro da balança comercial. No entanto há expectativas de que os preços das commodities agrícolas e minerais deverão permanecer elevados no próximo ano, dados os baixos níveis de estoques e a provável retomada do crescimento mundial.
As boas notícias, porém, não devem servir para turvar a evidência de que o superávit comercial vai se mostrando muito dependente da capacidade exportadora dos agronegócios. Seria desejável que o país movesse esforços para diversificar sua pauta de exportação e substituir importações, sobretudo naqueles setores mais deficitários, como os complexos químico e de bens de capital.


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