São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lula, desenganos e incertezas

SÃO PAULO - O petista padrão, simpatizantes do PT e adversários de esquerda do governo de FHC estão decepcionados com o que até agora é a equipe de Luiz Inácio Lula da Silva, o que pode parecer tanto estranho como compreensível.
Estranho é que tais pessoas tenham passado da euforia da vitória ao desengano em tão pouco tempo. Não teriam percebido a manobra transformista do comitê central petista? Desde a tateante onda rosa de 2000 e a partir da decidida guinada ao centro de março deste ano, o partido adaptou-se sem mais à ordem, para nela e com ela governar o país.
A decepção torna-se algo compreensível quando se recorda o que são os programas do PT, que não foram revogados pela vaga e eleitoreira declaração de princípios da "Carta aos Brasileiros" de Lula.
De resto, quanto ao desengano da esquerda e dos petistas, pode-se dizer que a reação é precipitada. Obviamente, o ministério não suscita a suspeita de que haverá "rompimento com o capital financeiro" ou equívocos e ingenuidades afins, pelo que tanta gente de esquerda parece ansiar. Mas isso não quer dizer que um governo de esquerda seja impossível.
Importante é descobrir as linhas de força do governo. Qual núcleo vai dar o tom? O primeiro ministério de FHC parecia quase tão disparatado como o de Lula. Isto é, havia direções programáticas e personalidades tão divergentes como Pedro Malan e José Serra. Mas, no primeiro FHC, quem divergia do núcleo tecnocrático-mercadista estava marcado para morrer e morreu. Ao longo do governo tucano, "técnicos insulados", economistas ortodoxos ligados a Malan ou agregados, dominaram as idéias e os postos-chave da administração.
A equipe de Lula parece mais permeável à sociedade do que a tecnocracia de FHC (embora a idéia de democracia mais popular tenha sido esquecida pelo PT). Mas não se conhecem os grandes projetos e os líderes desse governo: quem vai conquistar o poder real e impor suas idéias no dia-a-dia da política. Por ora, o que há é muita incerteza e a tarefa enorme de tirar o país da crise angustiante.


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