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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula, desenganos e incertezas
SÃO PAULO - O petista padrão, simpatizantes do PT e adversários de esquerda do governo de FHC estão decepcionados com o que até agora é a
equipe de Luiz Inácio Lula da Silva, o
que pode parecer tanto estranho como compreensível.
Estranho é que tais pessoas tenham
passado da euforia da vitória ao desengano em tão pouco tempo. Não teriam percebido a manobra transformista do comitê central petista? Desde a tateante onda rosa de 2000 e a
partir da decidida guinada ao centro
de março deste ano, o partido adaptou-se sem mais à ordem, para nela e
com ela governar o país.
A decepção torna-se algo compreensível quando se recorda o que
são os programas do PT, que não foram revogados pela vaga e eleitoreira
declaração de princípios da "Carta
aos Brasileiros" de Lula.
De resto, quanto ao desengano da
esquerda e dos petistas, pode-se dizer
que a reação é precipitada. Obviamente, o ministério não suscita a suspeita de que haverá "rompimento
com o capital financeiro" ou equívocos e ingenuidades afins, pelo que
tanta gente de esquerda parece ansiar. Mas isso não quer dizer que um
governo de esquerda seja impossível.
Importante é descobrir as linhas de
força do governo. Qual núcleo vai dar
o tom? O primeiro ministério de FHC
parecia quase tão disparatado como
o de Lula. Isto é, havia direções programáticas e personalidades tão divergentes como Pedro Malan e José
Serra. Mas, no primeiro FHC, quem
divergia do núcleo tecnocrático-mercadista estava marcado para morrer
e morreu. Ao longo do governo tucano, "técnicos insulados", economistas
ortodoxos ligados a Malan ou agregados, dominaram as idéias e os postos-chave da administração.
A equipe de Lula parece mais permeável à sociedade do que a tecnocracia de FHC (embora a idéia de democracia mais popular tenha sido esquecida pelo PT). Mas não se conhecem os grandes projetos e os líderes
desse governo: quem vai conquistar o
poder real e impor suas idéias no dia-a-dia da política. Por ora, o que há é
muita incerteza e a tarefa enorme de
tirar o país da crise angustiante.
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