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NELSON MOTTA
Ingênuos, imprudentes, imaculados
RIO DE JANEIRO - O ministro Luiz Gushiken disse que o esquema Valério nasceu antes de Delúbio, que apenas se apropriou, "ingenuamente",
dele. "Eticamente, sob o ponto de vista pessoal, Delúbio não tem essa mácula. Foi imprudente ao mexer com
caixa dois. Mas não é um PC Farias,
a diferença é grande."
É mesmo. A operação financeira do
projeto de poder do PT -em grande
parte irrigado pela "ingenuidade" de
Delúbio e a esperteza de Valério-
fez muito mais mal ao país e às instituições democráticas do que as roubalheiras burguesas de PC Farias. Os
dois prejuízos são incalculáveis e irrecuperáveis, mas o do esquema PT-Valério deixa seqüelas muito mais
graves e profundas na vida democrática, nos partidos e na classe política.
O álibi é constrangedor: se não houve ganho pessoal do criminoso, vale
tudo. Pela "causa". Absolve nazistas,
racistas, terroristas ...Eles também
não têm essa "mácula" pequeno-burguesa da mão grande.
Para Gushiken, PC é um canalha, e
Delúbio, um herói. Para PC, certamente Delúbio seria um otário metido a malandro, que deu com os burros n'água numa conspiração ingênua e imprudente para tomar o Estado. PC gargalharia ao ouvir que o
PT, que não tinha dinheiro nem sequer para pagar sua folha de pessoal,
assumiu dívidas de R$ 55 milhões. E
que tudo era só caixa dois. Ah, esses
amadores...
Aceite-se como verdade que Delúbio não roubou, embora pudesse roubar -como eles, os puros, acham que
a maioria dos não-petistas faria. Dirceu e Gushiken não roubaram. Lula
não roubou. No Brasil, essa obrigação fundamental virou uma rara e
poderosa qualidade que absolve quase tudo. Até as tentativas de aparelhar e tomar o Estado, até as incompetências e demagogias do governo e
de seu partido, que geram para a sociedade prejuízos muito maiores e
além das roubalheiras.
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