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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Previdência e emoções

SÃO PAULO - Que a reforma da Previdência é necessária, parece consenso. Mas, como o PT está descobrindo a fórceps, é muito fácil anunciar o propósito de executá-la e quase impossível chegar a um acordo sobre quem perde e quem ganha.
Reproduzo frases de dois leitores, radicalmente opostas, para dar uma pequena amostra do terreno minado que é o assunto.
"Se o ministro Marco Mello fosse o presidente do Supremo Tribunal em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel não poderia ter posto fim à escravidão no Brasil. Os fazendeiros donos dos escravos também tinham "direitos adquiridos" sobre os escravos pois os tinham comprado, alimentado e tratado ao abrigo do Estado de Direito garantido pela Constituição do Império", escreve Fernando Pierry.
A lógica é impecável, não é?
Mas Démerson Dias, da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União, mete a sua colher, na direção oposta, com um longo arrazoado do qual é justo extrair um argumento em geral omitido no debate.
Trata-se do fato de que o funcionário público contribui para a Previdência com uma fatia sobre o total de seu salário sem um limite como o que existe para o setor privado.
"A aposentadoria é integral porque a contribuição também o é", escreve Démerson, com lógica igualmente impecável.
Há outros argumentos, mas o espaço impede utilizá-los todos.
As duas frases, no entanto, talvez bastem para dar uma pálida idéia do vespeiro que é a reforma previdenciária e dos interesses que serão fatalmente afetados.
A complexidade não justifica, no entanto, o fato de que o PT, partido que talvez tenha sido o que mais discutiu a Previdência como oposição, chega ao governo atirando para todos os lados, com o sério risco de não atingir alvo algum.


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