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CLÓVIS ROSSI
Previdência e emoções
SÃO PAULO - Que a reforma da Previdência é necessária, parece consenso. Mas, como o PT está descobrindo
a fórceps, é muito fácil anunciar o
propósito de executá-la e quase impossível chegar a um acordo sobre
quem perde e quem ganha.
Reproduzo frases de dois leitores,
radicalmente opostas, para dar uma
pequena amostra do terreno minado
que é o assunto.
"Se o ministro Marco Mello fosse o
presidente do Supremo Tribunal em
13 de maio de 1888, a princesa Isabel
não poderia ter posto fim à escravidão no Brasil. Os fazendeiros donos
dos escravos também tinham "direitos adquiridos" sobre os escravos pois
os tinham comprado, alimentado e
tratado ao abrigo do Estado de Direito garantido pela Constituição do
Império", escreve Fernando Pierry.
A lógica é impecável, não é?
Mas Démerson Dias, da Federação
Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público
da União, mete a sua colher, na direção oposta, com um longo arrazoado
do qual é justo extrair um argumento
em geral omitido no debate.
Trata-se do fato de que o funcionário público contribui para a Previdência com uma fatia sobre o total de
seu salário sem um limite como o que
existe para o setor privado.
"A aposentadoria é integral porque
a contribuição também o é", escreve
Démerson, com lógica igualmente
impecável.
Há outros argumentos, mas o espaço impede utilizá-los todos.
As duas frases, no entanto, talvez
bastem para dar uma pálida idéia do
vespeiro que é a reforma previdenciária e dos interesses que serão fatalmente afetados.
A complexidade não justifica, no
entanto, o fato de que o PT, partido
que talvez tenha sido o que mais discutiu a Previdência como oposição,
chega ao governo atirando para todos os lados, com o sério risco de não
atingir alvo algum.
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