|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
De vento em popa
BRASÍLIA - Lula voltou ontem de
Quito, no Equador, com o primeiro
troféu da nova política externa: a
criação do Grupo dos Amigos da Venezuela, uma proposta brasileira que
foi rejeitada pelos EUA no início e
aceita ao final. Os dois países estão
juntos no grupo.
Esse troféu marca uma guinada na
política externa, sempre acusada de
"muito passiva" e que agora se pretende "pró-ativa". Trocando em
miúdos, significa que o Brasil decidiu, sob o governo Lula, partir para a
ofensiva e ocupar a liderança ostensiva da região. Arroubo de hegemonia.
Início de governo, novas políticas,
teses, ações. E, evidentemente, críticas do que vinham tocando o barco e
agora se sentem subitamente fora.
Acusam o novo governo, aliás, de ter
desviado o leme do Itamaraty para o
Planalto, onde o assessor internacional do PT e agora de Lula, Marco Aurélio Garcia, dá os rumos e pode gerar confronto com os EUA.
Para quem olha da praia, tudo isso
não passa de fofoca de diplomata.
Mas há, sim, uma aposta de risco e
uma guinada da política externa em
busca de hegemonia na América do
Sul e depois na América Latina para
negociar à altura com os "grandes"
-EUA e Europa.
O sucesso da operação "Amigos da
Venezuela" é um bom começo e pode
ter efeitos em cascata. Ontem mesmo,
comemorava-se no Ministério do
Meio Ambiente que as negociações
nos fóruns internacionais sobre clima
e energia, por exemplo, vão ser mais
duras, mais de igual para igual.
Quanto ao Itamaraty: hoje, a turma está dividida entre os que aplaudem e os que temem as ousadias de
Lula e Marco Aurélio, mas os dois lados acham que, em caso de necessidade, a solução está logo ali e se chama Celso Amorim. O chanceler está
atuando em dobradinha com Garcia
e tem cara de tímido, mas é bom de
serviço. Se algo ratear, estará pronto
para assumir o leme sozinho.
Quanto aos marinheiros embaixadores e diplomatas em geral? Hoje,
ainda há viúvas tucanas. Se der errado, eles se fortalecem. Se der certo, serão todos petistas desde criancinha.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Previdência e emoções Próximo Texto: Rio de Janeiro - Mário Magalhães: O baú da praia Índice
|