São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A volta do dilema: pão ou canhão?
CARLOS DE MEIRA MATTOS
Não há dúvida de que só preservamos incólume, até hoje, esse enorme patrimônio geopolítico porque, dentro de nossas possibilidades, sempre cuidamos de nossa defesa. Nossas fronteiras atuais não vieram de mão beijada, são fruto de porfiadas lutas, diplomáticas e militares, desde a época colonial. Entre nossos maiores vultos históricos destacam-se Caxias e Rio Branco, forjados na luta pela preservação de nossa integridade territorial. Constitui missão pétrea de governo defender os fundamentos do Estado -soberania, integridade territorial, identidade nacional. Trata-se de missão existencial cuja transcendência supera de muito as variantes ocasionais da política administrativa. Desde a primeira Constituição imperial até a atual, os deveres essenciais das Forças Armadas estão definidos em conceitos semelhantes, embora com redações diferentes. Todas destacam dois conceitos principais: defesa contra agressões externas e manutenção da ordem constitucional -em caso de incapacidade dos organismos policiais. Para cumpri-los, nossas Forças Armadas, tradicionalmente, dispuseram seu efetivo e seus recursos bélicos obedecendo a duas servidões -de defesa externa (adensando seus efetivos operacionais nas proximidades das fronteiras mais críticas) e de presença territorial, mantendo pelo menos uma unidade do Exército em cada capital estadual, assegurando, assim, a presença do poder da União em todo o território. Com a evolução das situações políticas, a rapidez dos meios de transportes e a capacidade das telecomunicações, esse dispositivo tradicional está sujeito a mudanças. Entretanto os dois conceitos essenciais da missão constitucional das Forças Armadas -eficiência operacional para a defesa ou dissuasão militar e poder de presença em qualquer ponto do território- não se alteraram. Nenhum estadista negará que, hoje, talvez mais do que no passado, precisamos possuir uma força armada eficiente, adequada à nossa importância geopolítica. A situação de relativa paz que desfrutamos agora em nosso continente não nos assegura uma permanência de tranquilidade. Vivemos num mundo convulsionado pelas guerras e ameaças de guerra. Até quando esse clima de hostilidade não nos atingirá? Nossos estadistas do passado não descuidaram nem da diplomacia nem da força militar, irmãs gêmeas. Assim, herdamos imenso patrimônio geopolítico. Essa questão política (pão ou força) deixou de ser polêmica para os verdadeiros estadistas desde que a sabedoria dos romanos proclamou: "Si vis pacem para bellum". Eis a visão endossada por nosso maior gênio da diplomacia, o barão do Rio Branco, quando, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, disse: "Se hoje buscamos melhorar as condições de nosso Exército e de nossa Armada, não é porque alimentamos planos de agressão ou de ambiciosa influência sobre os destinos de outros povos. É unicamente porque sentimos a necessidade, que todas as nações previdentes e pundonorosas sentem, de estarmos preparados para a pronta defesa do território, dos direitos e da honra contra possíveis provocações e afrontas". Carlos de Meira Mattos, 89, general reformado do Exército e veterano da Segunda Guerra Mundial, é doutor em ciência política e conselheiro da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Katarina Tomasevski: O direito universal à educação e o Estado Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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