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BRASIL GLOBAL
A presença crescente de capitais estrangeiros na economia
brasileira ainda não produziu muitos
dos bons resultados previstos pelos
defensores da abertura econômica.
As expectativas, aliás, não eram
poucas, começando pelo aumento
da competitividade e chegando à melhoria na qualidade dos produtos e
serviços, sem esquecer da esperança
de inserção mais virtuosa do país nos
mercados internacionais e de criação
de novos horizontes de investimento
e crescimento econômico.
Os indicadores de desnacionalização da indústria brasileira são inequívocos. O capital estrangeiro respondia por 36% do faturamento dos
350 maiores grupos do país em 91.
No final de 99 essa participação chegava a 53,5%. É evidente a incorporação do Brasil à globalização.
As empresas desnacionalizadas,
em muitos casos também privatizadas, ganharam eficiência e produtividade. Mas, se o resultado caso a caso
foi em geral favorável aos interesses
dos novos proprietários, os resultados macroeconômicos dessa transformação ainda não surgiram.
A principal explicação para esse
descompasso entre o "micro" e o
"macro" está no fato de que a entrada de capital estrangeiro significou
principalmente mudança de propriedade, mas nem sempre criação de
nova capacidade produtiva.
Boa parte do apoio à abertura vinha
da expectativa de que os novos capitais estrangeiros criariam um embalo e atrairiam ainda mais capitais, gerando um círculo virtuoso.
Passado o momento de transferência de empresas nacionais para estrangeiros, surgiria uma dinâmica
que, no devido tempo, aumentaria as
escalas de produção e o tamanho dos
mercados também para empresas
nacionais, além de abrir novas fontes
de financiamento e caminhos para o
crescimento econômico, a inovação
tecnológica e a ocupação de mercados mundiais. Mas esse segundo
momento ainda não chegou.
Para os que acreditam nas virtudes
da abertura ao capital estrangeiro, o
fracasso se deve a causas externas,
como o desaquecimento da economia mundial, as crises financeiras
em mercados emergentes ou a política de juros altos e câmbio artificial
adotada pelo governo FHC.
Já os mais críticos alertam para a
própria lógica dos capitais globais.
Em primeiro lugar, as estratégias
das corporações globais seriam pautadas pela ocupação do maior número possível de mercados nacionais.
Afinal, não compete a essas empresas planejar a integração desses mercados a um sistema mundial supostamente mais livre e dinâmico.
O investidor estrangeiro vem ao
Brasil antes de tudo para vender mais
no mercado local. Fica em segundo
plano, e acontece apenas em condições muito favoráveis, a hipótese de
exportar a partir da base brasileira.
Outro aspecto crítico resulta do
modo como se fez a abertura. Ou seja, não se trata de condenar o capital
estrangeiro em tese, mas de perceber
que há muitos modos de abrir a economia. A China certamente abriu
seus mercados, mas o fez com base
em contrapartidas, políticas industriais e tecnológicas e mesmo senso
geopolítico. É algo muito diferente
da abertura incondicional e unilateral, subserviente e sem projeto que
caracterizou o ciclo de reformas liberais na América Latina e no Brasil.
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