São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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BRASIL GLOBAL

A presença crescente de capitais estrangeiros na economia brasileira ainda não produziu muitos dos bons resultados previstos pelos defensores da abertura econômica.
As expectativas, aliás, não eram poucas, começando pelo aumento da competitividade e chegando à melhoria na qualidade dos produtos e serviços, sem esquecer da esperança de inserção mais virtuosa do país nos mercados internacionais e de criação de novos horizontes de investimento e crescimento econômico.
Os indicadores de desnacionalização da indústria brasileira são inequívocos. O capital estrangeiro respondia por 36% do faturamento dos 350 maiores grupos do país em 91. No final de 99 essa participação chegava a 53,5%. É evidente a incorporação do Brasil à globalização.
As empresas desnacionalizadas, em muitos casos também privatizadas, ganharam eficiência e produtividade. Mas, se o resultado caso a caso foi em geral favorável aos interesses dos novos proprietários, os resultados macroeconômicos dessa transformação ainda não surgiram.
A principal explicação para esse descompasso entre o "micro" e o "macro" está no fato de que a entrada de capital estrangeiro significou principalmente mudança de propriedade, mas nem sempre criação de nova capacidade produtiva.
Boa parte do apoio à abertura vinha da expectativa de que os novos capitais estrangeiros criariam um embalo e atrairiam ainda mais capitais, gerando um círculo virtuoso.
Passado o momento de transferência de empresas nacionais para estrangeiros, surgiria uma dinâmica que, no devido tempo, aumentaria as escalas de produção e o tamanho dos mercados também para empresas nacionais, além de abrir novas fontes de financiamento e caminhos para o crescimento econômico, a inovação tecnológica e a ocupação de mercados mundiais. Mas esse segundo momento ainda não chegou.
Para os que acreditam nas virtudes da abertura ao capital estrangeiro, o fracasso se deve a causas externas, como o desaquecimento da economia mundial, as crises financeiras em mercados emergentes ou a política de juros altos e câmbio artificial adotada pelo governo FHC.
Já os mais críticos alertam para a própria lógica dos capitais globais.
Em primeiro lugar, as estratégias das corporações globais seriam pautadas pela ocupação do maior número possível de mercados nacionais.
Afinal, não compete a essas empresas planejar a integração desses mercados a um sistema mundial supostamente mais livre e dinâmico.
O investidor estrangeiro vem ao Brasil antes de tudo para vender mais no mercado local. Fica em segundo plano, e acontece apenas em condições muito favoráveis, a hipótese de exportar a partir da base brasileira.
Outro aspecto crítico resulta do modo como se fez a abertura. Ou seja, não se trata de condenar o capital estrangeiro em tese, mas de perceber que há muitos modos de abrir a economia. A China certamente abriu seus mercados, mas o fez com base em contrapartidas, políticas industriais e tecnológicas e mesmo senso geopolítico. É algo muito diferente da abertura incondicional e unilateral, subserviente e sem projeto que caracterizou o ciclo de reformas liberais na América Latina e no Brasil.



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