São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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A FRENTE EXTERNA

O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao que consta, vai investir grande parte das energias de seu último ano de mandato no que se convencionou chamar de "diplomacia presidencial". São basicamente contatos com outros chefes de Estado e de governo que visam a criar condições para a consecução de interesses estratégicos do governo brasileiro no terreno das relações internacionais.
Depois de tanto tempo hesitando entre uma linha de conduta ou outra -depois de um período em que houve mesmo certo afrouxamento na intenção de aumentar a condição brasileira de influir nas grandes decisões regionais e globais-, o governo FHC dá mostras de maior coesão nessa área. No pequeno jogo das relações regionais, o Brasil se esforça para retomar um padrão de transações com a Argentina a fim de que o Mercosul possa encontrar um horizonte mais realista para progredir. Nesse sentido, está em curso um grande empenho diplomático brasileiro, disposto a fazer concessões ao parceiro de Cone Sul que passa por terríveis dificuldades.
Há coerência na reaproximação brasileira, pois a Argentina abandonou o "currency board" e luta para implantar um regime de moeda nacional flutuante, o que, em tese, permite convergência com a economia brasileira. Faz sentido o Brasil participar do esforço para evitar a ruína do Plano Duhalde, a qual, provavelmente, abriria caminho para a dolarização no país vizinho.
Mas há um flanco de atuação aberto também no que tange a aumentar o peso relativo do Brasil nas mais importantes instâncias mundiais de decisão, que é praticamente nulo na atual divisão internacional do poder. A visita do premiê alemão, Gerhard Schröder, foi particularmente importante nesse sentido, pois formalizou uma espécie de aliança germano-brasileira para a reforma do órgão executivo máximo das Nações Unidas, o Conselho de Segurança (CS). A intenção é ampliar o número de países com assento permanente nesse colegiado.
A "aliança" com a Alemanha deu-se um mês depois de o presidente Fernando Henrique Cardoso obter, durante visita oficial à Rússia, uma promessa de apoio do Kremlin à presença brasileira num CS reformado.
São passos sempre muito pequenos e custosos os que se podem obter numa estratégia como a brasileira, de aumentar seu cacife geopolítico. Se, por razões óbvias, as chances de sucesso do Brasil no seu projeto regional são maiores, a ambição de buscar um lugar ao sol também entre os grandes da terra jamais deve ser abandonada. O governo FHC demorou, mas agora, também por força de um cenário mais propício, focaliza de forma razoável as grandes linhas de política externa. Trata-se de um tema particularmente árido para campanhas presidenciais. Mas é preciso discuti-lo para que o Brasil não deixe de evoluir e não perca mais oportunidades em suas relações com o resto do mundo.


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