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A FRENTE EXTERNA
O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao que consta,
vai investir grande parte das energias
de seu último ano de mandato no
que se convencionou chamar de "diplomacia presidencial". São basicamente contatos com outros chefes
de Estado e de governo que visam a
criar condições para a consecução de
interesses estratégicos do governo
brasileiro no terreno das relações internacionais.
Depois de tanto tempo hesitando
entre uma linha de conduta ou outra
-depois de um período em que
houve mesmo certo afrouxamento
na intenção de aumentar a condição
brasileira de influir nas grandes decisões regionais e globais-, o governo FHC dá mostras de maior coesão
nessa área. No pequeno jogo das relações regionais, o Brasil se esforça
para retomar um padrão de transações com a Argentina a fim de que o
Mercosul possa encontrar um horizonte mais realista para progredir.
Nesse sentido, está em curso um
grande empenho diplomático brasileiro, disposto a fazer concessões ao
parceiro de Cone Sul que passa por
terríveis dificuldades.
Há coerência na reaproximação
brasileira, pois a Argentina abandonou o "currency board" e luta para
implantar um regime de moeda nacional flutuante, o que, em tese, permite convergência com a economia
brasileira. Faz sentido o Brasil participar do esforço para evitar a ruína
do Plano Duhalde, a qual, provavelmente, abriria caminho para a dolarização no país vizinho.
Mas há um flanco de atuação aberto também no que tange a aumentar
o peso relativo do Brasil nas mais importantes instâncias mundiais de decisão, que é praticamente nulo na
atual divisão internacional do poder.
A visita do premiê alemão, Gerhard
Schröder, foi particularmente importante nesse sentido, pois formalizou uma espécie de aliança germano-brasileira para a reforma do órgão executivo máximo das Nações
Unidas, o Conselho de Segurança
(CS). A intenção é ampliar o número
de países com assento permanente
nesse colegiado.
A "aliança" com a Alemanha deu-se um mês depois de o presidente
Fernando Henrique Cardoso obter,
durante visita oficial à Rússia, uma
promessa de apoio do Kremlin à presença brasileira num CS reformado.
São passos sempre muito pequenos e custosos os que se podem obter numa estratégia como a brasileira, de aumentar seu cacife geopolítico. Se, por razões óbvias, as chances
de sucesso do Brasil no seu projeto
regional são maiores, a ambição de
buscar um lugar ao sol também entre os grandes da terra jamais deve
ser abandonada. O governo FHC demorou, mas agora, também por força de um cenário mais propício, focaliza de forma razoável as grandes
linhas de política externa. Trata-se de
um tema particularmente árido para
campanhas presidenciais. Mas é preciso discuti-lo para que o Brasil não
deixe de evoluir e não perca mais
oportunidades em suas relações com
o resto do mundo.
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