São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Barbas de molho (e não são de Lula)

BRASÍLIA - FHC e Lula podem ter
um segundo encontro neste ano, em torno do mesmo tema: a segurança (ou insegurança) pública.
Os dois se sentaram no Palácio do Planalto logo depois do assassinato brutal do prefeito petista Celso Daniel, de Santo André. E podem se sentar novamente no próximo dia 27 para discutir o plano do PT para a segurança. Um plano ambicioso.
A intenção é produzir mais um gesto de grandeza dos dois lados, colocando uma questão de interesse nacional acima dos partidos e das disputas políticas. FHC lucra, Lula também lucra. E, na prática, podem pressionar a votação no Congresso de um "pacote rápido" contra a violência.
"Se abrir muito o leque de projetos, não se aprova nada", diz o deputado petista Paulo Delgado (MG), que almoçou na sexta com o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio.
O Congresso poderia concentrar esforços, por exemplo, no fim da comutação de pena. Hoje, a sentença é uma, a pena é outra, muito menor. A intenção é igualar as duas, acabando com artifícios como "bom comportamento". O sujeito foi condenado a 20 anos, pois que cumpra os 20 anos.
O encontro Virgílio-Delgado, porém, não foi para falar só de segurança. Foi para falar também, ou principalmente, sobre o cenário eleitoral considerado ideal tanto para os moderados do PT (como Delgado) quanto para a esquerda do PSDB (onde se encaixa Virgílio): um segundo turno entre Lula e José Serra.
Não significa acordo, compromisso, bandeira branca, nada disso. Mas, se eu fosse Roseana Sarney (PFL) ou Anthony Garotinho (PSB), teria ficado com as orelhas ardendo. Roseana atrapalha especialmente a candidatura Serra, mas também a de Lula. Garotinho atrapalha especialmente a candidatura Lula, mas também a de qualquer candidato governista.
Conclusão: PT e PSDB são adversários, mas também aliados. Contra Roseana, Garotinho e até Ciro. Ainda falta muito para a eleição, mas os dois já se elegeram adversários preferenciais. Depois? Depois é depois.



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