São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Passo certo

RIO DE JANEIRO - Continuo desinte
ressado da sucessão presidencial, achando que o cenário peca pela mediocridade de homens e idéias -e aqui estou repetindo famosa frase de Oswaldo Aranha, que dizia ser o Brasil um deserto de homens e idéias.
Mas vou abrir uma exceção, desde já alertando que é exceção mesmo, e não uma opinião e, muito menos, uma convicção.
O candidato Garotinho procurou em Paris o economista Celso Furtado. Enquanto outros candidatos buscam marqueteiros, aqui e do exterior, pagando uma baba para saber se devem usar gel no cabelo, se vestem ternos escuros ou claros, Garotinho aproveitou estar em Paris e procurou o homem que criou a Sudene, que planejou parte de nosso desenvolvimento em regime democrático, um intelectual respeitado internacionalmente.
Não foi pedir voto, nem Celso Furtado é de dar voto assim sem mais nem menos. Não foi uma visita política nem partidária, mas um movimento de quem deseja se candidatar à Presidência e sabe que precisa aprender muito, daí que não procura artistas de grande popularidade, aparecendo como papagaios de pirata ao lado dos astros da novela das 8 ou das timbaladas da vida.
Evidente que Celso Furtado não recebeu Garotinho como um eleitor ou cabo eleitoral, mas como um brasileiro que desde os anos 50 está comprometido com um projeto nacional, um economista que, à esquerda do espectro ideológico, foi alijado por economistas que há mais de 30 anos se alinham na direita e se fixam no poder.
Registro a visita como um fato positivo para nossos costumes políticos. Orientados pelos fazedores de imagem, os candidatos em geral visitam cardeais, pais-de-santo, os freis Damião e as estrelas dos trios-elétricos.
Ao procurar Celso Furtado, acredito que Garotinho, em que pesem a sua pouca idade e sua recente atuação na política federal, deu um passo certo para si e um exemplo para os outros candidatos.


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