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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
São Pedro, o povo
e a competência
Depois de sete meses de racionamento, o governo anuncia o seu
fim para os próximos dias. Está na hora?
Antes de responder a essa pergunta,
convém lembrar que a população deu
um verdadeiro show de disciplina. O
Brasil é grato ao seu povo que, no meu
entender, acabou gostando do racionamento. Todos aprenderam que estavam esbanjando; viram que dá para
economizar; e, que assim fazendo,
gastam menos com energia elétrica. O
sacrifício foi bem menor do que se
pensava, inclusive para o setor produtivo.
Não disponho de todos os dados,
que, aliás vêm sendo analisados por
uma equipe competente. Parabéns
aos seus membros. Mas os dados que
acompanho diariamente por força de
meu ofício me deixam preocupado. É
verdade que choveu bem e aqui temos
de agradecer a são Pedro. Mas podemos abusar da sua boa vontade? Acho
que não.
Os reservatórios que estão mais
cheios, por razão de segurança, deveriam ter um volume de água ainda
maior. Em primeiro lugar, porque não
se sabe se as chuvas vão se repetir no
próximo ano. Em segundo lugar, porque se sabe que o Brasil terá 2 milhões
de habitantes a mais no ano que vem.
Em terceiro lugar, porque, para sustentar um crescimento de 4% ou 5%, a
partir de 2003, a energia existente e
planejada pode não ser suficiente.
Por essas razões, prefiro a cautela.
Depois de termos criado novos hábitos na população, por que não levar isso um pouco mais adiante? Por que
não adquirir uma garantia maior para
enfrentar o futuro?
O Brasil tem um enorme potencial
hídrico. Mas explora apenas 27% do
total -embora haja vários projetos
que só não são implantados imediatamente devido à nefasta ação de certas
ONGs ligadas aos capitais do exterior
que, no fundo, querem bloquear o desenvolvimento do Brasil.
Em artigo publicado recentemente e
citando o pesquisador francês Guy
Sorman, o professor Meira Mattos assim analisa a questão: "Atrás das siglas
humanitárias, prosperam pequenas e
grandes ONGs, ricas e pobres, generosas e cínicas. Ninguém fiscaliza suas
fontes de financiamento, ninguém verifica a autenticidade da boa causa a
que se propõem e ninguém controla
as suas despesas. Na sua quase totalidade, elas não estão subordinadas senão a assembléias fantasmas e são administradas efetivamente por minorias vinculadas a outros interesses. Essas ONGs usam fundamentos científicos falsos, com o que aterrorizam pessoas ingênuas, apresentando perigos
ambientais exagerados para obter donativos e doações, em geral, de empresas transnacionais" ("O perigo da proliferação indiscriminada", Folha, 21/
7/01).
Está na hora de dar um basta nessa
feira de mentiras. Ninguém mais do
que os brasileiros deseja proteger a
natureza. Não há por que buscar em
gente estranha e desconhecedora do
assunto os argumentos para travar o
progresso do país. Se o plano maquiavélico dessas ONGs vingar, o Brasil será jogado fora da competição mundial, para gáudio de vários países do
Primeiro Mundo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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