São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
São Pedro, o povo e a competência

Depois de sete meses de racionamento, o governo anuncia o seu fim para os próximos dias. Está na hora?
Antes de responder a essa pergunta, convém lembrar que a população deu um verdadeiro show de disciplina. O Brasil é grato ao seu povo que, no meu entender, acabou gostando do racionamento. Todos aprenderam que estavam esbanjando; viram que dá para economizar; e, que assim fazendo, gastam menos com energia elétrica. O sacrifício foi bem menor do que se pensava, inclusive para o setor produtivo.
Não disponho de todos os dados, que, aliás vêm sendo analisados por uma equipe competente. Parabéns aos seus membros. Mas os dados que acompanho diariamente por força de meu ofício me deixam preocupado. É verdade que choveu bem e aqui temos de agradecer a são Pedro. Mas podemos abusar da sua boa vontade? Acho que não.
Os reservatórios que estão mais cheios, por razão de segurança, deveriam ter um volume de água ainda maior. Em primeiro lugar, porque não se sabe se as chuvas vão se repetir no próximo ano. Em segundo lugar, porque se sabe que o Brasil terá 2 milhões de habitantes a mais no ano que vem. Em terceiro lugar, porque, para sustentar um crescimento de 4% ou 5%, a partir de 2003, a energia existente e planejada pode não ser suficiente.
Por essas razões, prefiro a cautela. Depois de termos criado novos hábitos na população, por que não levar isso um pouco mais adiante? Por que não adquirir uma garantia maior para enfrentar o futuro?
O Brasil tem um enorme potencial hídrico. Mas explora apenas 27% do total -embora haja vários projetos que só não são implantados imediatamente devido à nefasta ação de certas ONGs ligadas aos capitais do exterior que, no fundo, querem bloquear o desenvolvimento do Brasil.
Em artigo publicado recentemente e citando o pesquisador francês Guy Sorman, o professor Meira Mattos assim analisa a questão: "Atrás das siglas humanitárias, prosperam pequenas e grandes ONGs, ricas e pobres, generosas e cínicas. Ninguém fiscaliza suas fontes de financiamento, ninguém verifica a autenticidade da boa causa a que se propõem e ninguém controla as suas despesas. Na sua quase totalidade, elas não estão subordinadas senão a assembléias fantasmas e são administradas efetivamente por minorias vinculadas a outros interesses. Essas ONGs usam fundamentos científicos falsos, com o que aterrorizam pessoas ingênuas, apresentando perigos ambientais exagerados para obter donativos e doações, em geral, de empresas transnacionais" ("O perigo da proliferação indiscriminada", Folha, 21/ 7/01).
Está na hora de dar um basta nessa feira de mentiras. Ninguém mais do que os brasileiros deseja proteger a natureza. Não há por que buscar em gente estranha e desconhecedora do assunto os argumentos para travar o progresso do país. Se o plano maquiavélico dessas ONGs vingar, o Brasil será jogado fora da competição mundial, para gáudio de vários países do Primeiro Mundo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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