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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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ALÉM DO FMI

A geração de saldos no comércio exterior e a possibilidade de zerar o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro têm motivado um ciclo de otimismo. Os "megassuperávits" dos anos 80 parecem hoje até pequenos comparados com o saldo de US$ 20 bilhões que o comércio exterior possivelmente produzirá neste ano. O ajuste externo chegaria a tal ponto que o dinheiro colocado pelo FMI à disposição do Brasil seria dispensável.
Para os otimistas, o sucesso desse ajuste seria a condição para que o país voltasse a crescer, escapando aos rigores do Fundo e retomando planos de desenvolvimento econômico e social. O governo Lula, premiado por aprofundar a ortodoxia, teria capacidade técnica e legitimidade para se aventurar em heterodoxias e colocar as estratégias de longo prazo em ordem superior de prioridade, comparadas às armadilhas de curto prazo que há pelo menos duas décadas amarram o país.
Infelizmente, por trás dessa fórmula há uma hipótese arriscada. A fórmula em si é abstratamente correta: os países que fazem o ajuste de suas contas externas efetivamente reduzem sua dependência de crédito externo, podendo até dispensar as restrições impostas pelo FMI.
A sua fragilidade, no entanto, está em considerar que esse ajuste externo seja virtuoso e sustentável. Ao contrário, ele está fundado na contenção violenta da atividade econômica por meio de taxas de juros escorchantes e de um ajuste fiscal impiedoso.
O ajuste externo efetivamente virtuoso é o que tem fundamento no aumento da competitividade da economia, ou seja, no aumento das exportações e na substituição de importações. Nesse campo, o governo Lula, como ocorria sob o comando de Fernando Henrique Cardoso, é pródigo na retórica, mas, na prática, revela-se inepto ou lento demais.
Sem o ajuste virtuoso, pode-se até mesmo sair do FMI, mas não em condições de retomar o crescimento, pois a escassez de crédito externo e a falta de competitividade são freios ineludíveis.


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