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ALÉM DO FMI
A geração de saldos no comércio exterior e a possibilidade de
zerar o déficit em conta corrente do
balanço de pagamentos brasileiro
têm motivado um ciclo de otimismo.
Os "megassuperávits" dos anos 80
parecem hoje até pequenos comparados com o saldo de US$ 20 bilhões
que o comércio exterior possivelmente produzirá neste ano. O ajuste
externo chegaria a tal ponto que o dinheiro colocado pelo FMI à disposição do Brasil seria dispensável.
Para os otimistas, o sucesso desse
ajuste seria a condição para que o
país voltasse a crescer, escapando
aos rigores do Fundo e retomando
planos de desenvolvimento econômico e social. O governo Lula, premiado por aprofundar a ortodoxia,
teria capacidade técnica e legitimidade para se aventurar em heterodoxias
e colocar as estratégias de longo prazo em ordem superior de prioridade,
comparadas às armadilhas de curto
prazo que há pelo menos duas décadas amarram o país.
Infelizmente, por trás dessa fórmula há uma hipótese arriscada. A fórmula em si é abstratamente correta:
os países que fazem o ajuste de suas
contas externas efetivamente reduzem sua dependência de crédito externo, podendo até dispensar as restrições impostas pelo FMI.
A sua fragilidade, no entanto, está
em considerar que esse ajuste externo seja virtuoso e sustentável. Ao
contrário, ele está fundado na contenção violenta da atividade econômica por meio de taxas de juros escorchantes e de um ajuste fiscal impiedoso.
O ajuste externo efetivamente virtuoso é o que tem fundamento no
aumento da competitividade da economia, ou seja, no aumento das exportações e na substituição de importações. Nesse campo, o governo
Lula, como ocorria sob o comando
de Fernando Henrique Cardoso, é
pródigo na retórica, mas, na prática,
revela-se inepto ou lento demais.
Sem o ajuste virtuoso, pode-se até
mesmo sair do FMI, mas não em
condições de retomar o crescimento,
pois a escassez de crédito externo e a
falta de competitividade são freios
ineludíveis.
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