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BORIS FAUSTO
Stálin: o mito e as vítimas
A 5 de março , transcorreram 50
anos da morte de Stálin. Sua época foi a dos grandes líderes políticos,
entre os quais, entretanto, é preciso
distinguir. De um lado, figuras ligadas
a nações democráticas, como Churchill, Roosevelt, De Gaulle ou Adenauer. De outro, as que estiveram à
frente de regimes totalitários, como é
o caso de Hitler, de Stálin, de Mussolini e de Mao.
Se os dias atuais se caracterizam pela
mediocridade das lideranças, caracterizam-se também, felizmente, pela
quase desaparição da cena mundial de
personagens carismáticos à frente de
países totalitários.
Stálin é um exemplo radical dessas
figuras e uma das mais complexas,
pois, se personalizou a violência no
mais alto grau, foi também alvo de
uma glorificação sem limites. Em sua
longa ditadura, realizou a proeza de liquidar quase todos os velhos companheiros de partido, promovendo, ao
mesmo tempo, uma repressão colossal da população russa e de etnias minoritárias. Para ficar em um exemplo,
a campanha de coletivização do campo (1929-1933), implicando a liquidação do campesinato acompanhada da
requisição das colheitas agrícolas,
provocou a morte de 5 milhões a 6 milhões de pessoas, número semelhante
ao de judeus exterminados por Hitler.
Como explicar que figura tão sinistra se tenha convertido em síntese de
todas as virtudes privadas e públicas,
sendo objeto de um culto supra-humano por parte de milhões de pessoas
em diferentes regiões do mundo?
Algo dessa contradição se explica
pela ilusão do comunismo, que Stálin,
mesmo de forma perversa, encarnou.
Distinguindo-se de Hitler, associado
ao projeto expansionista do Grande
Reich, ele personificou o mito universalista revolucionário, a aurora dos
novos tempos que trariam o fim da
exploração capitalista e a igualdade
entre os homens, como se prefigurava
na União Soviética.
Hoje, com os sonhos do comunismo
desfeitos, tendemos a esquecer o impacto da Revolução Russa -um divisor de águas que introduziu esperanças e temores, incentivando a organização de partidos "internacionalistas", de movimentos de trabalhadores
e de rebeliões coloniais. Nesse quadro,
os partidos comunistas representaram a principal correia de transmissão
do mito stalinista, eles próprios gerando um culto da personalidade de segundo grau em torno dos camaradas
Thorez, Togliatti, Prestes etc. a partir
do modelo soviético.
As façanhas e os sacrifícios da União
Soviética na Segunda Guerra Mundial
reforçaram a imagem de Stálin como
"genial guia dos povos", não obstante
o pacto germano-soviético e os expurgos que eliminaram, pouco antes do
conflito, comandantes militares experimentados.
Quando Stálin morreu, em 1953, sua
morte foi chorada por muita gente, e
não só pelos comunistas. Depois, a
partir do relatório Kruschev, o encanto se desfez, derrubando convicções
defendidas com fé religiosa.
Mas é bom lembrar que, na ex-pátria do socialismo, o partido comunista -em versão retificada- continua
a ser o maior do país. Mais ainda. Não
se tem notícia de que haja na Rússia
um só monumento nacional dedicado
às vítimas de Stálin. Se a comparação
vale, a Alemanha procedeu bem melhor com as vítimas do nazismo.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna
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