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CARLOS HEITOR CONY
A borboleta e o furacão
RIO DE JANEIRO - Já me disseram que a lei da causa e efeito é surpreendente. Quando uma borboleta bate
asas no Tibete, o movimento do ar
vai crescendo e se transforma num
tornado na Flórida. Não sei se é verdade. Mas o assassinato de um juiz
no interior de São Paulo foi provocado pelo consumidor que procura o
traficante na esquina da rua onde
mora e compra uma pequena dose de
coca ou de droga equivalente.
Não se pode impedir as borboletas
de bater asas, elas vivem disso e enfeitam a paisagem. Podem ser responsáveis pelos tornados, furacões, redemoinhos e maremotos. Nem assim
merecem um borboleticídio em massa. Entre a causa e o efeito é que se
deve fazer alguma coisa para impedir a lei da causalidade.
Fazer o quê? Esse é o problema não
apenas do governo mas da sociedade. Até aqui, foi cômodo para o governo federal jogar a culpa nos governos estaduais ou, em alguns casos, nos municipais. Dispondo de um
poderoso elemento de barganha, a
União se limita a lamentar a onda
de crimes e a lembrar que, em casos
mais agudos, pode usar a arma da
intervenção federal, que não resolve
o problema, mas passa atestado de
incompetência aos governadores e
aos prefeitos.
Na semana passada, com a morte
do juiz, vítima ostensiva do crime organizado que há muito deixou de ser
municipal ou estadual, parece que,
finalmente, o governo federal botou
a carapuça.
Tirante a maconha, que é a prima
pobre das drogas e há muito deveria
estar liberada, todas as outras drogas
são originárias de outros países, embora sejam processadas aqui mesmo.
Tampouco a maioria das armas,
que formam o arsenal do crime, são
produzidas aqui dentro. Isso não é
novidade. Logo, o problema da violência é federal. E a corrupção policial também. FHC ignorou o problema. Espera-se que Lula não faça o
mesmo.
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