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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A borboleta e o furacão

RIO DE JANEIRO - Já me disseram que a lei da causa e efeito é surpreendente. Quando uma borboleta bate asas no Tibete, o movimento do ar vai crescendo e se transforma num tornado na Flórida. Não sei se é verdade. Mas o assassinato de um juiz no interior de São Paulo foi provocado pelo consumidor que procura o traficante na esquina da rua onde mora e compra uma pequena dose de coca ou de droga equivalente.
Não se pode impedir as borboletas de bater asas, elas vivem disso e enfeitam a paisagem. Podem ser responsáveis pelos tornados, furacões, redemoinhos e maremotos. Nem assim merecem um borboleticídio em massa. Entre a causa e o efeito é que se deve fazer alguma coisa para impedir a lei da causalidade.
Fazer o quê? Esse é o problema não apenas do governo mas da sociedade. Até aqui, foi cômodo para o governo federal jogar a culpa nos governos estaduais ou, em alguns casos, nos municipais. Dispondo de um poderoso elemento de barganha, a União se limita a lamentar a onda de crimes e a lembrar que, em casos mais agudos, pode usar a arma da intervenção federal, que não resolve o problema, mas passa atestado de incompetência aos governadores e aos prefeitos.
Na semana passada, com a morte do juiz, vítima ostensiva do crime organizado que há muito deixou de ser municipal ou estadual, parece que, finalmente, o governo federal botou a carapuça.
Tirante a maconha, que é a prima pobre das drogas e há muito deveria estar liberada, todas as outras drogas são originárias de outros países, embora sejam processadas aqui mesmo.
Tampouco a maioria das armas, que formam o arsenal do crime, são produzidas aqui dentro. Isso não é novidade. Logo, o problema da violência é federal. E a corrupção policial também. FHC ignorou o problema. Espera-se que Lula não faça o mesmo.


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