São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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DINÂMICA DESIGUAL

Pesquisa sobre o desempenho da indústria, divulgada pelo IBGE, mostra que a recuperação em curso na economia permanece com um perfil bastante desigual. O dinamismo é maior no agronegócio e nos setores ligados à exportação, enquanto a debilidade do consumo, afetado pela queda da renda e pelo desemprego, retarda a melhoria da atividade em setores como alimentação, bebidas, vestuário e calçados.
Na comparação regional de janeiro do ano passado com janeiro deste ano, o destaque da produção industrial foi o Rio Grande do Sul, com crescimento de 11,3%, puxado por máquinas agrícolas e transporte.
Em segundo lugar veio a indústria paulista (que responde por cerca de 40% da produção brasileira), com expansão de 4,6%, influenciada positivamente pelo setor químico. O pior desempenho foi o do Rio de Janeiro, com -5,9%, ligado ao arrefecimento da extração de petróleo em relação a janeiro do ano passado.
Os dados regionais são claros ao indicar que a produção voltada para o mercado doméstico, com exceção do setor de bens duráveis, beneficiado pelo crédito ao consumidor, permanece aquém das expectativas da indústria, que esperava um início de 2004 mais promissor. Quanto a isso, foram sintomáticas as declarações do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, ao rebater críticas endereçadas à política econômica. Dizendo compreender a impaciência dos industriais, Furlan ratificou as avaliações de que a reativação do mercado interno será lenta.
Considerando que as exportações já se encontram em patamar bastante elevado e que as demandas à indústria geradas pelo crescimento do agronegócio tendem a encontrar seus limites, é recomendável cautela na avaliação do processo de recuperação. Com o Banco Central na defensiva, a renda enfraquecida e o panorama político turbulento, vão ficando mais longínquas as perspectivas do anunciado "espetáculo do crescimento". Assim, seria importante que o BC desse um sinal de estímulo para a produção e o consumo com a retomada, na reunião de hoje, dos cortes na taxa de juros.


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