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EUROPA CONTRA O TERROR
O massacre de Madri pode ter
como subproduto positivo o
lançamento de uma iniciativa européia contra o terror, substancialmente distinta da "guerra" preconizada
pelo presidente dos EUA, George W.
Bush. Se já havia em países-chave da
União Européia (UE), como a França
e a Alemanha, a tendência a opor-se
à abordagem norte-americana para o
problema do terrorismo, ela deve
acentuar-se depois dos infames atentados do 11 de Março.
Pelo menos nos discursos, a mudança já é visível. O futuro premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, classificou a guerra no Iraque -e
a subseqüente ocupação do país-
como "um desastre". O chanceler
francês, Dominique de Villepin,
abandonando a linguagem diplomática, afirmou que a intervenção "foi
um engano, diria até um erro".
À desenvoltura de lideranças européias mais independentes de Washington contrapõe-se o enfraquecimento do chamado bloco atlantista
(países da UE favoráveis às posições
da Casa Branca). O premiê espanhol,
José María Aznar, emerge como
grande derrotado do pleito. O outro
expoente filoamericano, o premiê
britânico, Tony Blair, enfrenta dificuldades políticas crescentes, enquanto o líder italiano Silvio Berlusconi, que também apoiou Bush, vai
mantendo prudente discrição.
A grande diferença entre as duas
vertentes de combate ao terror é conceitual. Enquanto para Bush a resposta deve ser preponderantemente
militar, com investimentos em segurança e ataques preventivos a países
que apóiem grupos extremistas, os
europeus, sem desprezar o reforço
da segurança, apostam principalmente no fator político. Tendem a
crer que uma boa solução para o problema palestino e a transferência da
soberania do Iraque a iraquianos ajudariam a reduzir o apelo que o terrorismo tem para jovens muçulmanos.
Se essa abordagem vai ou não funcionar, é uma incógnita. Mas, diante
dos problemas demonstrados pela
política antiterror norte-americana,
parece óbvio que a variante européia
deve ser experimentada.
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