São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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EUROPA CONTRA O TERROR

O massacre de Madri pode ter como subproduto positivo o lançamento de uma iniciativa européia contra o terror, substancialmente distinta da "guerra" preconizada pelo presidente dos EUA, George W. Bush. Se já havia em países-chave da União Européia (UE), como a França e a Alemanha, a tendência a opor-se à abordagem norte-americana para o problema do terrorismo, ela deve acentuar-se depois dos infames atentados do 11 de Março.
Pelo menos nos discursos, a mudança já é visível. O futuro premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, classificou a guerra no Iraque -e a subseqüente ocupação do país- como "um desastre". O chanceler francês, Dominique de Villepin, abandonando a linguagem diplomática, afirmou que a intervenção "foi um engano, diria até um erro".
À desenvoltura de lideranças européias mais independentes de Washington contrapõe-se o enfraquecimento do chamado bloco atlantista (países da UE favoráveis às posições da Casa Branca). O premiê espanhol, José María Aznar, emerge como grande derrotado do pleito. O outro expoente filoamericano, o premiê britânico, Tony Blair, enfrenta dificuldades políticas crescentes, enquanto o líder italiano Silvio Berlusconi, que também apoiou Bush, vai mantendo prudente discrição.
A grande diferença entre as duas vertentes de combate ao terror é conceitual. Enquanto para Bush a resposta deve ser preponderantemente militar, com investimentos em segurança e ataques preventivos a países que apóiem grupos extremistas, os europeus, sem desprezar o reforço da segurança, apostam principalmente no fator político. Tendem a crer que uma boa solução para o problema palestino e a transferência da soberania do Iraque a iraquianos ajudariam a reduzir o apelo que o terrorismo tem para jovens muçulmanos.
Se essa abordagem vai ou não funcionar, é uma incógnita. Mas, diante dos problemas demonstrados pela política antiterror norte-americana, parece óbvio que a variante européia deve ser experimentada.


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