São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

A hidra petista

BRASÍLIA - Ex-arenista convertido ao PMDB e hoje ao lulismo, José Sarney criou o "centrão" para governar com o Congresso a favor. Esse ajuntamento de deputados e senadores notabilizou-se pelo apetite por cargos e verbas. O léxico político incorporou o termo "fisiologismo".
No governo Lula, existe algo parecido ao "centrão" sarneyzista. É uma hidra de quatro cabeças composta por PL, PTB, PP e PMDB -esse último, acoplado recentemente.
No início de sua administração, Lula recebeu uma onda de adesões. Deputados e senadores queriam entrar no PT. Era necessário manter as aparências. José Dirceu criou uma fórmula engenhosa: mandou-os para partidos sob influência do Planalto.
O resultado é um flagelo. Juntos, PL, PTB e PP elegeram 101 deputados em outubro de 2002. No dia da posse, em fevereiro do ano passado, já estavam com 118. Hoje, são 150 -um aumento de 48,5% que não tem conexão com o desejo dos eleitores. Somem-se a isso os 78 deputados do PMDB e toma forma a hidra de 228 cadeiras na Câmara, um frankenstein patrocinado pelo lulismo.
Ingênuo ou arrogante, o PT achava possível ter um "centrão" sarneyzista sem precisar dar de comer a essa gente. Ou, no máximo, ofereceria alface aos leões. Ficariam todos felizes só de estar ao lado de Lula.
A realidade é outra. O PMDB reclama? Arrumam-se dois ministérios. Reclama mais. Dá-se a presidência dos Correios. O presidente do PL grita "fora, Palocci!", agüenta-se o tranco e se distribui um ou outro cargo na surdina. Não há saída.
Lula e o PT estão reféns daqueles que um dia o presidente chamou de 300 picaretas. A saída é a economia do país crescer de maneira acelerada. Mas isso até o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já percebeu que não vai acontecer.


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