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CLÓVIS ROSSI
Criar x gerir
LONDRES - Ao ver o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto,
atacar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, a pretexto de que o
ministro "não entende de economia",
saltou à memória um jantar com Palocci em Washington, durante a assembléia-geral do FMI em abril do
ano passado.
A pergunta que fiz então ao ministro foi, a rigor, a frase do presidente
do PL, claro que fechada com um
ponto de interrogação: "Você entende de economia?".
A resposta (está na Folha daquela
época) foi mais ou menos esta: "Só do
macro. Se for a detalhes, não". O
"macro", Palocci aprendeu no tranco, como prefeito de Ribeirão Preto,
primeiro, e como deputado e membro da Comissão de Finanças da Câmara Federal, depois.
Ou, posto de outra forma: a crítica
de Costa Neto pode ter inúmeras motivações subalternas, como dizem os
jornais de hoje, mas não é, no seu
conteúdo, inteiramente incorreta,
pelo contrário.
Antes de continuar, um aviso: não
vejo rigorosamente nada de mau em
que um ministro da Fazenda entenda pouco de economia. Foram tantos
os economistas de lustrosas grifes
acadêmicas e pós-graduação no exterior que passaram pela Fazenda e
contribuíram para a ruína da pátria
que o diploma não representa garantia de boa administração.
O problema é de outra natureza.
Palocci tem-se revelado um gerente.
Competente ou não, é questão em
aberto, conforme o ângulo pelo qual
se olhe. Não permitiu o desastre que
muita gente antevia quando o PT
ganhou a eleição. Ponto para ele.
Mas não desencalhou o navio Brasil.
Ponto contra ele.
O que interessa de fato é que o Brasil, no momento, precisa de uma política econômica criativa, e raros gerentes servem para a criação, só para
a execução. Até aposto que Palocci
gerenciaria bem outra política econômica porque me parece uma pessoa "do bem". Mas, antes, é preciso
que alguém a crie, coisa que ninguém, no PT ou no governo, conseguiu sequer esboçar até agora.
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