São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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Política primária

Modelo dos EUA deveria inspirar avanço no sistema de escolha de candidatos a eleições majoritárias no Brasil

DOIS LÍDERES políticos brasileiros expressaram opiniões antagônicas sobre a realização de prévias partidárias para a escolha de candidatos em eleições majoritárias. O senador Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB, apóia o método. O deputado José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT, acha que ele deve ser o "último recurso".
A experiência do Partido Democrata dos EUA na campanha presidencial deste ano pode servir como referência ao debate. Até 1968, os dois grandes partidos americanos, o Democrata e o Republicano, escolhiam seus candidatos à Presidência em convenções nacionais.
Havia algumas eleições primárias, mas eram poucas e quase irrelevantes. Os grandes líderes do partido em cada Estado negociavam entre si e com os pré-candidatos o apoio de suas delegações a um dos aspirantes. Era comum ocorrerem vários escrutínios até se chegar a uma decisão. No intervalo entre eles, mais negociações em salas fechadas. Theodore White, no livro "Como Se Faz um Presidente", descreve com detalhes as muitas conversas e barganhas que levaram à formação da chapa John Kennedy-Lyndon Johnson em 1960, em Los Angeles, por exemplo.
Mas 1968 mudou toda a história, especialmente no caso do Partido Democrata. O clima político era muito tenso, com o assassinato de Robert Kennedy, o favorito para obter a indicação do partido, contra o desejo do presidente Johnson. A convenção nacional, em Chicago, acabou em pancadaria nas ruas e grandes tumultos no auditório.
A partir de 1972, o Partido Democrata resolveu dar cada vez mais importância à manifestação de seus filiados comuns por meio de eleições primárias e de "caucuses", reuniões ampliadas de diretórios regionais para discutir e decidir quem vai receber o apoio de cada distrito eleitoral.
Decerto o desejo de conferir máxima representatividade ao cidadão comum -e, ao mesmo tempo, completa autonomia a cada Estado e, às vezes, a cada distrito- complicou demais o processo. O sistema de prévias dos democratas é tão confuso que não se sabe ao certo até agora quantos delegados à convenção nacional estão comprometidos com cada pré-candidato.
Os democratas mantiveram espaço para os caciques nacionais e regionais, que têm o status de superdelegados: eles não precisam ser eleitos para ir à convenção. Como a disputa entre Hillary Clinton e Barack Obama está muito renhida, talvez caiba a esses superdelegados (20% do total) decidir o vencedor, com práticas similares às que prevaleciam antes de 1968.
Apesar de todos esses inconvenientes, o método de primárias e "caucuses" merece aplausos. Talvez como a democracia, na célebre definição de Winston Churchill, ele seja o pior que existe, exceto todos os demais.
Havia 13 aspirantes à Presidência no Partido Democrata. Foram reduzidos a dois após intensos debates públicos. Os dois agora lutam, diante de todos os interessados, pelos votos que lhes faltam para a indicação.
Com todos os seus defeitos, o sistema americano é superior às conversas de coxia e aos banquetes restritos em restaurantes de luxo que prevalecem no Brasil.


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