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Política primária
Modelo dos EUA deveria inspirar avanço no sistema de escolha de candidatos a eleições majoritárias no Brasil
DOIS LÍDERES políticos
brasileiros expressaram opiniões antagônicas sobre a realização de prévias partidárias para a
escolha de candidatos em eleições majoritárias. O senador
Tasso Jereissati, ex-presidente
do PSDB, apóia o método. O deputado José Eduardo Cardozo,
secretário-geral do PT, acha que
ele deve ser o "último recurso".
A experiência do Partido Democrata dos EUA na campanha
presidencial deste ano pode servir como referência ao debate.
Até 1968, os dois grandes partidos americanos, o Democrata e o
Republicano, escolhiam seus
candidatos à Presidência em
convenções nacionais.
Havia algumas eleições primárias, mas eram poucas e quase irrelevantes. Os grandes líderes do
partido em cada Estado negociavam entre si e com os pré-candidatos o apoio de suas delegações
a um dos aspirantes. Era comum
ocorrerem vários escrutínios até
se chegar a uma decisão. No intervalo entre eles, mais negociações em salas fechadas. Theodore White, no livro "Como Se Faz
um Presidente", descreve com
detalhes as muitas conversas e
barganhas que levaram à formação da chapa John Kennedy-Lyndon Johnson em 1960, em
Los Angeles, por exemplo.
Mas 1968 mudou toda a história, especialmente no caso do
Partido Democrata. O clima político era muito tenso, com o assassinato de Robert Kennedy, o
favorito para obter a indicação
do partido, contra o desejo do
presidente Johnson. A convenção nacional, em Chicago, acabou em pancadaria nas ruas e
grandes tumultos no auditório.
A partir de 1972, o Partido Democrata resolveu dar cada vez
mais importância à manifestação de seus filiados comuns por
meio de eleições primárias e de
"caucuses", reuniões ampliadas
de diretórios regionais para discutir e decidir quem vai receber
o apoio de cada distrito eleitoral.
Decerto o desejo de conferir
máxima representatividade ao
cidadão comum -e, ao mesmo
tempo, completa autonomia a
cada Estado e, às vezes, a cada
distrito- complicou demais o
processo. O sistema de prévias
dos democratas é tão confuso
que não se sabe ao certo até agora quantos delegados à convenção nacional estão comprometidos com cada pré-candidato.
Os democratas mantiveram
espaço para os caciques nacionais e regionais, que têm o status
de superdelegados: eles não precisam ser eleitos para ir à convenção. Como a disputa entre
Hillary Clinton e Barack Obama
está muito renhida, talvez caiba a
esses superdelegados (20% do
total) decidir o vencedor, com
práticas similares às que prevaleciam antes de 1968.
Apesar de todos esses inconvenientes, o método de primárias e
"caucuses" merece aplausos.
Talvez como a democracia, na
célebre definição de Winston
Churchill, ele seja o pior que
existe, exceto todos os demais.
Havia 13 aspirantes à Presidência no Partido Democrata.
Foram reduzidos a dois após intensos debates públicos. Os dois
agora lutam, diante de todos os
interessados, pelos votos que
lhes faltam para a indicação.
Com todos os seus defeitos, o
sistema americano é superior às
conversas de coxia e aos banquetes restritos em restaurantes de
luxo que prevalecem no Brasil.
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