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CLÓVIS ROSSI
O vira-lata cresceu e não sabe
LONDRES - O impecável Sergio
Leo ("Valor Econômico") abre seu
texto de ontem registrando a "alegria quase adolescente com que as
autoridades brasileiras falam da
aproximação entre os presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e Barack
Obama".
Não são só as autoridades atuais,
caro Leo. Lembro-me da adolescente alegria de Fernando Henrique Cardoso ao anunciar, nos jardins da embaixada do Brasil em
Madri, que passaria o fim de semana seguinte na residência oficial dos
primeiros-ministros britânicos em
Chequers, para conversar com
"Tony" [Blair, então primeiro-ministro]. Ah, iria também o "Bill"
[Clinton, já ex-presidente].
Se Sergio Leo fosse Nelson Rodrigues, trocaria "alegria quase adolescente" por "complexo de vira-lata",
típico do brasileiro.
Tomando apenas o ângulo das relações internacionais, o complexo
foi razoável durante boa parte dos
últimos muitíssimos anos.
Primeiro, na ditadura, não éramos vistos como um país normal
exatamente pela violência institucional e desrespeito aos direitos humanos. Depois, veio a democracia,
mas continuou uma inflação obscena, que tornava impraticável o diálogo entre autoridades brasileiras e
do mundo rico. Eles não podiam
entender um país com inflação tão
desbocada.
A partir do Plano Real, no entanto, o Brasil ficou, digamos, normal.
Já não é um vira-lata. Tem problemas? Tem, mas todo cachorro de
raça também os tem, como é óbvio
-e a presente crise deixou mais óbvio ainda.
O Brasil não precisa mais de um
selo de qualidade ou de um afago
especial dos donos do canil.
A rigor,
Obama é quem tem que dizer a que
veio, já que está há pouquíssimo
tempo no posto. Lula já disse, para o
bem ou para o mal, e é cachorro
grande como presidente de um país
grande e com problemas. Graves,
mas não exóticos como antanho.
crossi@uol.com.br
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