São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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CLÓVIS ROSSI

O vira-lata cresceu e não sabe

LONDRES - O impecável Sergio Leo ("Valor Econômico") abre seu texto de ontem registrando a "alegria quase adolescente com que as autoridades brasileiras falam da aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama".
Não são só as autoridades atuais, caro Leo. Lembro-me da adolescente alegria de Fernando Henrique Cardoso ao anunciar, nos jardins da embaixada do Brasil em Madri, que passaria o fim de semana seguinte na residência oficial dos primeiros-ministros britânicos em Chequers, para conversar com "Tony" [Blair, então primeiro-ministro]. Ah, iria também o "Bill" [Clinton, já ex-presidente]. Se Sergio Leo fosse Nelson Rodrigues, trocaria "alegria quase adolescente" por "complexo de vira-lata", típico do brasileiro.
Tomando apenas o ângulo das relações internacionais, o complexo foi razoável durante boa parte dos últimos muitíssimos anos. Primeiro, na ditadura, não éramos vistos como um país normal exatamente pela violência institucional e desrespeito aos direitos humanos. Depois, veio a democracia, mas continuou uma inflação obscena, que tornava impraticável o diálogo entre autoridades brasileiras e do mundo rico. Eles não podiam entender um país com inflação tão desbocada.
A partir do Plano Real, no entanto, o Brasil ficou, digamos, normal. Já não é um vira-lata. Tem problemas? Tem, mas todo cachorro de raça também os tem, como é óbvio -e a presente crise deixou mais óbvio ainda. O Brasil não precisa mais de um selo de qualidade ou de um afago especial dos donos do canil.
A rigor, Obama é quem tem que dizer a que veio, já que está há pouquíssimo tempo no posto. Lula já disse, para o bem ou para o mal, e é cachorro grande como presidente de um país grande e com problemas. Graves, mas não exóticos como antanho.

crossi@uol.com.br


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