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ELIANE CANTANHÊDE
Puxada de tapete
BRASÍLIA - Enquanto Lula defendia com Obama uma maior
aproximação dos EUA com os países da região, os "hermanos" agiam
em sentido exatamente oposto.
Na Bolívia, Evo Morales mandou
retirar os soldados que há anos e
anos faziam a segurança da embaixada americana, agora entregue à
própria sorte num país em que o
presidente vive de impropérios
contra os EUA e expulsando diplomatas norte-americanos.
Na Venezuela, Hugo Chávez não
perdeu tempo depois de conquistar
o direito de mandatos consecutivos, "ad eternum", e se comporta
como se estivesse em guerra, ou à
beira de uma guerra. Ocupou militarmente os principais portos do
país, em regiões comandadas pela
oposição, e já assumiu o controle da
polícia metropolitana de Caracas,
de hospitais, escolas e uma TV.
Ou seja: Obama quer abrir; Chávez e Morales, fechar. Assim fica difícil para Lula se arvorar em líder
regional no bom momento da troca
de Bush para Obama e de republicanos para democratas.
Se algo mudou, é a disposição de
Washington de realmente dialogar
e ouvir mais. Obama privilegiou os
vizinhos (quem desconhece o valor
de uma boa vizinhança?), repetindo
a tradição de fazer a primeira viagem ao Canadá e receber em seguida o presidente do México, Felipe
Calderón. Depois, abriu a Casa
Branca para prestigiar o principal
aliado em três continentes.
Pela ordem: os primeiros-ministros Taro Aso (Japão), pela Ásia, e
Gordon Brown (Reino Unido), pela
Europa, e Lula, pela América Latina. Por lógica, o próximo visitante
deve ser da África do Sul. Para bons
entendedores, meia palavra basta.
Para a diplomacia, gestos bastam.
Chávez e Morales, porém, não estão avalizando a posição de Lula na
região nem dando um voto de confiança para Obama, sua biografia e
suas manifestações de intenção.
Não estão ajudando. E deveriam,
porque, nessa crise, eles é que mais
precisam ser ajudados.
elianec@uol.com.br
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