São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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ELIANE CANTANHÊDE

Puxada de tapete

BRASÍLIA - Enquanto Lula defendia com Obama uma maior aproximação dos EUA com os países da região, os "hermanos" agiam em sentido exatamente oposto.
Na Bolívia, Evo Morales mandou retirar os soldados que há anos e anos faziam a segurança da embaixada americana, agora entregue à própria sorte num país em que o presidente vive de impropérios contra os EUA e expulsando diplomatas norte-americanos.
Na Venezuela, Hugo Chávez não perdeu tempo depois de conquistar o direito de mandatos consecutivos, "ad eternum", e se comporta como se estivesse em guerra, ou à beira de uma guerra. Ocupou militarmente os principais portos do país, em regiões comandadas pela oposição, e já assumiu o controle da polícia metropolitana de Caracas, de hospitais, escolas e uma TV.
Ou seja: Obama quer abrir; Chávez e Morales, fechar. Assim fica difícil para Lula se arvorar em líder regional no bom momento da troca de Bush para Obama e de republicanos para democratas.
Se algo mudou, é a disposição de Washington de realmente dialogar e ouvir mais. Obama privilegiou os vizinhos (quem desconhece o valor de uma boa vizinhança?), repetindo a tradição de fazer a primeira viagem ao Canadá e receber em seguida o presidente do México, Felipe Calderón. Depois, abriu a Casa Branca para prestigiar o principal aliado em três continentes.
Pela ordem: os primeiros-ministros Taro Aso (Japão), pela Ásia, e Gordon Brown (Reino Unido), pela Europa, e Lula, pela América Latina. Por lógica, o próximo visitante deve ser da África do Sul. Para bons entendedores, meia palavra basta. Para a diplomacia, gestos bastam.
Chávez e Morales, porém, não estão avalizando a posição de Lula na região nem dando um voto de confiança para Obama, sua biografia e suas manifestações de intenção. Não estão ajudando. E deveriam, porque, nessa crise, eles é que mais precisam ser ajudados.

elianec@uol.com.br


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