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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A vitória da Páscoa
A vitória da Páscoa é a passagem
da morte à vida. Toda pessoa humana, em sua maturidade espiritual,
questiona a si própria a respeito do
sentido da existência e sobre a continuidade da vida para além da morte.
As filosofias e os ensinamentos religiosos aplicam-se a responder a essas
perguntas.
À luz da doutrina cristã, Jesus, Filho
de Deus, entra em nossa história e assume a condição terrena, assemelha-se em tudo a nós, exceto no pecado, e
passa pela experiência da morte violenta. Proclama com clareza e coragem que realiza o desígnio da misericórdia divina. Oferece-se para a remissão de nossos pecados e para a
conversão para a vida nova, marcada
pelo amor de Deus e ao próximo. É
surpreendente que Jesus, como prova
de seu amor, se tenha submetido aos
sofrimentos e à violência da crucifixão
e tenha querido, pela sua ressurreição,
alegrar-nos e revelar-nos a vitória definitiva sobre a morte.
Desde o início, os discípulos de Jesus
Cristo reconheceram na ressurreição
gloriosa o pleno cumprimento do desígnio divino da salvação, demonstrando que a morte encerra apenas
nossa fase terrena, mas abre a reintegração, a continuidade e o aperfeiçoamento da vida pessoal. Jesus anuncia
ao mundo a promessa de felicidade
eterna e nos alerta sobre a fraqueza da
liberdade humana, sobre a necessidade de conversão, sobre o arrependimento das faltas e sobre a reconciliação com Deus e com o próximo.
Assim, a ressurreição de Jesus já nos
comunica a esperança da vida eterna e
feliz e ensina que neste mundo é preciso superar as marcas do pecado e promover uma sociedade pacífica e fraterna. A vida nova, conquistada pela
morte e ressurreição de Jesus, deve já
agora manifestar os valores do Reino
de Deus: a justiça, a caridade, a reconciliação e a paz.
A ressurreição de Cristo afirma, portanto, de modo solene e inequívoco, a
dignidade da pessoa humana, destinada a participar da sua vitória sobre a
morte e a entrar em comunhão plena
com Deus e com os irmãos.
Celebrar a Páscoa, para as comunidades cristãs, é renovar o compromisso com a dignidade da pessoa. Dois
aspectos são mais urgentes.
É preciso compreender que não nos
é lícito comemorar de modo coerente
a Páscoa sem assumir o respeito à vida
na luta contra a fome, contra a miséria
e contra a exclusão de milhões de pessoas. Isso atinge o comportamento
pessoal e familiar e as políticas públicas e internacionais.
Outro aspecto é a ação firme e educativa da sociedade contra a violência
crescente. Multiplicam-se, no Brasil,
assaltos e assassinatos covardes. Parece que a vida perdeu seu valor. Aumentam assustadoramente a brutalidade das execuções entre traficantes e
o conflito entre grupos armados. É necessário, no entanto, incluir na ação
contra a violência a defesa e a promoção da vida da criança no seio materno. A grave omissão a esse respeito
cria na sociedade uma esquizofrenia,
uma dualidade contraditória de atitudes que destrói a força de qualquer
ação educativa em prol dos direitos
humanos.
Como queixar-se da violência e esforçar-se por eliminá-la se, por outro
lado, fechamos o discernimento
quanto à evidência da dignidade da
pessoa humana indefesa e inocente no
seio materno?
A vitória de Cristo e a paz da Páscoa
exigem o pleno respeito à vida.
Que a Mãe de Deus e nossa nos irmane e faça de nós verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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