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O CUSTO DOS JUROS
Aproxima-se a reunião mensal em que o Banco Central define a taxa básica de juros. Num ambiente de atividade econômica fraca e
de dúvidas quanto ao cumprimento
da meta de inflação, volta a crescer o
debate em torno dos juros. Mas o escopo desse debate tem-se revelado
muito estreito: discute-se apenas se
um pequeno corte dos juros provocará uma alta excessiva da inflação.
Mais importante é discutir por que
a taxa de juros básica se mantém,
desde 1994, bastante alta, em termos
reais. A razão maior é a vulnerabilidade das contas externas. A política
econômica criou uma situação em
que baixar bastante os juros e acelerar o crescimento da economia traz o
risco de provocar uma crise cambial.
A adoção do regime de câmbio flutuante, no início de 1999, amenizou,
mas não eliminou, esse problema.
É uma trama difícil de desarmar.
Um exemplo disso é dado por estudo
recente da Fundação Getúlio Vargas
divulgado pela Fiesp, que aponta os
juros altos como um fator que encarece o crédito e mina a competitividade do produto nacional, reforçando
assim a vulnerabilidade externa. Segundo o estudo, supondo que indústrias de menor porte paguem 45% ao
ano pelo capital de giro (taxa compatível com o custo médio desse tipo de
crédito, que, segundo o BC, é de 36%
ao ano), esse custo representa cerca
de 10% do preço final dos bens .
A competitividade -e, portanto, a
solidez das contas externas- também se encontra prejudicada pela
fragilidade das contas públicas (que,
por sua vez, é em boa medida fruto
dos longos anos de juros altos). De
acordo com outro estudo da FGV, os
tributos que incidem sobre cada etapa do processo produtivo encarecem
os manufaturados em 9%, em média. São justamente esses tributos
com incidência "em cascata" (PIS/
Pasep, Cofins e CPMF) aqueles que o
governo mais tem aumentado para
reforçar a arrecadação e estancar o
aumento da sua dívida.
Os juros altos são um remendo
custoso. Para abrir mão deles, é preciso desatar os nós que mantêm vulneráveis as contas externas e as contas públicas. Tarefa, árdua, para o
próximo governo.
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