São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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O CUSTO DOS JUROS

Aproxima-se a reunião mensal em que o Banco Central define a taxa básica de juros. Num ambiente de atividade econômica fraca e de dúvidas quanto ao cumprimento da meta de inflação, volta a crescer o debate em torno dos juros. Mas o escopo desse debate tem-se revelado muito estreito: discute-se apenas se um pequeno corte dos juros provocará uma alta excessiva da inflação.
Mais importante é discutir por que a taxa de juros básica se mantém, desde 1994, bastante alta, em termos reais. A razão maior é a vulnerabilidade das contas externas. A política econômica criou uma situação em que baixar bastante os juros e acelerar o crescimento da economia traz o risco de provocar uma crise cambial. A adoção do regime de câmbio flutuante, no início de 1999, amenizou, mas não eliminou, esse problema.
É uma trama difícil de desarmar. Um exemplo disso é dado por estudo recente da Fundação Getúlio Vargas divulgado pela Fiesp, que aponta os juros altos como um fator que encarece o crédito e mina a competitividade do produto nacional, reforçando assim a vulnerabilidade externa. Segundo o estudo, supondo que indústrias de menor porte paguem 45% ao ano pelo capital de giro (taxa compatível com o custo médio desse tipo de crédito, que, segundo o BC, é de 36% ao ano), esse custo representa cerca de 10% do preço final dos bens .
A competitividade -e, portanto, a solidez das contas externas- também se encontra prejudicada pela fragilidade das contas públicas (que, por sua vez, é em boa medida fruto dos longos anos de juros altos). De acordo com outro estudo da FGV, os tributos que incidem sobre cada etapa do processo produtivo encarecem os manufaturados em 9%, em média. São justamente esses tributos com incidência "em cascata" (PIS/ Pasep, Cofins e CPMF) aqueles que o governo mais tem aumentado para reforçar a arrecadação e estancar o aumento da sua dívida.
Os juros altos são um remendo custoso. Para abrir mão deles, é preciso desatar os nós que mantêm vulneráveis as contas externas e as contas públicas. Tarefa, árdua, para o próximo governo.


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