|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
De longe e de perto
MADRI - Que belíssimo país é o Brasil, desde que visto de longe.
Converso com um consultor e sociólogo espanhol que dá assessoria ao
governo da terra e a empresários de
grosso calibre. Só não posso dizer o
seu nome porque pediu reserva. "Eu
não existo, só existem as pessoas a
quem dou consultoria", diz (não pertence, vê-se, à estirpe dos Duda Mendonça e Nizan Guanaes).
O cidadão derrete-se em elogios a
Fernando Henrique Cardoso e ao
Brasil: "O Brasil ganhou algo que aos
brasileiros custa perceber. É imagem
internacional. É um país hoje mais
confiável".
Sobre FHC, basta uma frase: "Com
o tempo, sentirão saudade dele".
A última frase tem grandes chances
de se transformar em realidade. O
Brasil tem a curiosa particularidade
de o presidente de turno reabilitar o
antecessor, mesmo quando este tenha deixado o Palácio em desgraça.
José Sarney, por exemplo, reabilitou, embora parcialmente, o regime
militar para ser posteriormente reabilitado por Fernando Collor -apesar do desastre que foi a sua gestão,
de qualquer ângulo que se olhe.
Mas, enquanto FHC ainda é presidente e não pode, pois, deixar saudade, vamos dar uma batida de olhos
no outro Brasil, o que é visto, por
exemplo, por Paulo Nogueira Batista
Jr. na sua coluna na Folha.
O economista lista o que chama,
entre aspas, de "grandes conquistas"
do governo FHC, uma série de números absolutamente aterradores sobre
a evolução das dívidas do setor público, que tendem a atrapalhar, talvez até a inviabilizar, pelo menos, o
início de gestão do futuro presidente.
O leitor cínico dirá que talvez seja
essa a razão pela qual se sentirá saudade de FHC. Um novo governo herdaria, em vez de "um país mais confiável", um país mais endividado e,
por isso, menos confiável.
Talvez ser cínico signifique ser realista. Talvez olhar um país de longe,
sem depender dele para ganhar a vida, seja mais fácil e induza a análises
lenientes. Logo veremos.
Texto Anterior: Editoriais: JOSÉ REIS Próximo Texto: Brasília - Marta Salomon: Quanto custa o voto? Índice
|