São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

De longe e de perto

MADRI - Que belíssimo país é o Brasil, desde que visto de longe.
Converso com um consultor e sociólogo espanhol que dá assessoria ao governo da terra e a empresários de grosso calibre. Só não posso dizer o seu nome porque pediu reserva. "Eu não existo, só existem as pessoas a quem dou consultoria", diz (não pertence, vê-se, à estirpe dos Duda Mendonça e Nizan Guanaes).
O cidadão derrete-se em elogios a Fernando Henrique Cardoso e ao Brasil: "O Brasil ganhou algo que aos brasileiros custa perceber. É imagem internacional. É um país hoje mais confiável".
Sobre FHC, basta uma frase: "Com o tempo, sentirão saudade dele".
A última frase tem grandes chances de se transformar em realidade. O Brasil tem a curiosa particularidade de o presidente de turno reabilitar o antecessor, mesmo quando este tenha deixado o Palácio em desgraça.
José Sarney, por exemplo, reabilitou, embora parcialmente, o regime militar para ser posteriormente reabilitado por Fernando Collor -apesar do desastre que foi a sua gestão, de qualquer ângulo que se olhe.
Mas, enquanto FHC ainda é presidente e não pode, pois, deixar saudade, vamos dar uma batida de olhos no outro Brasil, o que é visto, por exemplo, por Paulo Nogueira Batista Jr. na sua coluna na Folha.
O economista lista o que chama, entre aspas, de "grandes conquistas" do governo FHC, uma série de números absolutamente aterradores sobre a evolução das dívidas do setor público, que tendem a atrapalhar, talvez até a inviabilizar, pelo menos, o início de gestão do futuro presidente.
O leitor cínico dirá que talvez seja essa a razão pela qual se sentirá saudade de FHC. Um novo governo herdaria, em vez de "um país mais confiável", um país mais endividado e, por isso, menos confiável.
Talvez ser cínico signifique ser realista. Talvez olhar um país de longe, sem depender dele para ganhar a vida, seja mais fácil e induza a análises lenientes. Logo veremos.


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