São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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MARTA SALOMON

Quanto custa o voto?

BRASÍLIA - São conversas de corredor no Congresso. Um deputado faz as contas e conclui que, cortados os luxos e as gordurinhas, não gastará menos de R$ 700 mil para se reeleger. É pouco, diz um outro: por menos de R$ 1 milhão -quase o que foi apreendido na Lunus-, não há como entrar na disputa.
Os valores, embora superem de longe os salários que os personagens acima receberão nos próximos quatro anos, caso sejam eleitos, não são absurdos perto do recorde da campanha de 98. O senador José Alencar declarou à Justiça eleitoral gastos de R$ 3,89 milhões.
É provável até que as contas da próxima eleição caminhem numa direção oposta à dos preços da economia do dia-a-dia, segundo lógica própria. Uma certa deflação é esperada. Consequência do ritmo mais lento da economia e, principalmente, do crescente receio dos financiadores com a política.
Menos arriscado é prever que mais uma eleição virá sem que se saiba exatamente seu custo nem quem banca a conta. O delicado debate sobre financiamento eleitoral foi abatido um tempo e muito debate depois das reportagens da Folha que apontaram a existência de caixa dois na campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso, no final de 2000.
O Senado ainda aprovou projeto de financiamento público de campanha. Estimava um custo de R$ 7 por eleitor. Logo depois, deu-se um raro e silencioso pacto entre governo e oposição. Ficou tudo na mesma.
Nos EUA, o Congresso proibiu recentemente empresas de financiarem diretamente candidatos. Aqui, o que vale ainda é um sistema dominado por grandes empreiteiras e bancos.
Dias atrás, o empresário Eugênio Staub propôs a criação de fundos bancados por empresários. Seriam administrados (e partilhados) pelo Estado. Nenhum sinal de empolgação por ora.
Dizem que a campanha deste ano vai girar entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões. Na falta de transparência, será mais um chute e campo fértil para as denúncias do futuro.



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