São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Bons modos

PARIS - Pergunta-se o chanceler Celso Amorim: "Mudou a OCDE ou mudei eu?".
OCDE é a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clube dos países ricos, hoje com 30 integrantes. Para a nossa geração, a de Amorim e a minha, a pergunta faz todo o sentido: houve tempos em que aderir à OCDE era como entrar nesses clubes "privês" para nobres grã-finos, o que implicava seguir regras estritas do que eles consideram bom comportamento.
Países em desenvolvimento como o Brasil não tinham esse tipo de "bons modos" aos olhos do mundo rico. Ou eram ditaduras ou seguiam políticas econômicas erráticas, aventureiras, populistas, nacionalistas, fechadas -tudo o que o mundo rico fez ou ainda faz, mas não tolera que seja imitado.
O México rompeu o molde e hoje é membro pleno da OCDE. Ontem, a organização formalizou o convite ao Chile, cuja economia deve ter tamanho inferior à do Estado de São Paulo. Mas quem esnoba o clubão agora é o Brasil, daí a pergunta retórica do chanceler.
"O Brasil não vai mudar a sua visão de mundo só para entrar na OCDE", completa Amorim. Também faz sentido, mas é obrigatório dizer que o Brasil já mudou sua visão de mundo. A partir do governo Collor (1990/92), foi adotando com crescente apetite quase todo o repertório dos "bons modos" do mundo rico.
Tanto que Ángel Gurría, o mexicano que é secretário-geral da OCDE depois de ter sido um dos arquitetos da conversão de seu país aos "bons modos", diz que "a economia brasileira está preparada para entrar na OCDE".
Está claro, pois, que a economia brasileira mudou. Para melhor, com certeza, em muitos aspectos.
Falta agora comprovar que os "bons modos" exigidos pela OCDE são bons também para a maioria dos brasileiros.

crossi@uol.com.br


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