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CLÓVIS ROSSI
Bons modos
PARIS - Pergunta-se o chanceler
Celso Amorim: "Mudou a OCDE ou
mudei eu?".
OCDE é a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico, o clube dos países ricos, hoje com 30 integrantes.
Para a nossa geração, a de Amorim e a minha, a pergunta faz todo o
sentido: houve tempos em que aderir à OCDE era como entrar nesses
clubes "privês" para nobres grã-finos, o que implicava seguir regras
estritas do que eles consideram
bom comportamento.
Países em desenvolvimento como o Brasil não tinham esse tipo de
"bons modos" aos olhos do mundo
rico. Ou eram ditaduras ou seguiam
políticas econômicas erráticas,
aventureiras, populistas, nacionalistas, fechadas -tudo o que o mundo rico fez ou ainda faz, mas não tolera que seja imitado.
O México rompeu o molde e hoje
é membro pleno da OCDE. Ontem,
a organização formalizou o convite
ao Chile, cuja economia deve ter tamanho inferior à do Estado de São
Paulo. Mas quem esnoba o clubão
agora é o Brasil, daí a pergunta retórica do chanceler.
"O Brasil não vai mudar a sua visão de mundo só para entrar na OCDE", completa Amorim.
Também faz sentido, mas é obrigatório dizer que o Brasil já mudou
sua visão de mundo. A partir do governo Collor (1990/92), foi adotando com crescente apetite quase todo o repertório dos "bons modos"
do mundo rico.
Tanto que Ángel Gurría, o mexicano que é secretário-geral da OCDE depois de ter sido um dos arquitetos da conversão de seu país aos
"bons modos", diz que "a economia
brasileira está preparada para entrar na OCDE".
Está claro, pois, que a economia
brasileira mudou. Para melhor,
com certeza, em muitos aspectos.
Falta agora comprovar que os "bons
modos" exigidos pela OCDE são
bons também para a maioria dos
brasileiros.
crossi@uol.com.br
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