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CARLOS HEITOR CONY
Jogo do empurra
RIO DE JANEIRO - Por precaução, mais do que por convicção, o
presidente da República não enviará ao Congresso o projeto que torna
o aborto legal. Diz ele que o assunto
é da alçada dos representantes do
povo. Não deve ser iniciativa do Poder Executivo.
Empurrando a responsabilidade
para o Legislativo, Lula tira a mão
da cumbuca, reservando-se para o
momento em que terá de vetar ou
sancionar a decisão do Congresso.
É evidente que os congressistas
também entrarão no jogo do empurra, com olho na pressão de diversas religiões que condenam o
aborto, a Igreja Católica em primeiríssimo lugar.
De qualquer forma, o problema
está posto na agenda da nação. Os
que são contra o aborto são contrários também ao plebiscito sobre a
questão, no pressuposto de que ele
seja favorável ao "assassinato de
inocentes". É o caso de lembrar o
mais recente plebiscito sobre a fabricação e a venda de armas.
A parcela da população que se julga a mais esclarecida até hoje não
engoliu o resultado da consulta direta ao povo. Dava como certa a vitória da proibição, não acreditava
que a maioria diria "não" à facilidade com que se fabricam e vendem
armamentos. A decepção ainda não
foi absorvida: toda vez que há tiroteio, há sempre um Jeremias chorando e lamentando a decisão das
massas, que recusaram a solução de
acabar com a violência pela raiz,
proibindo a compra indiscriminada
de armas.
A impressão é que, no caso do
aborto, a maioria da sociedade é a
favor da interrupção da gravidez
não desejada. Mentes esclarecidas,
formadores e informadores de opinião, cientistas políticos e sociais,
filósofos de várias tendências ocuparão a mídia salientando a oportunidade e a urgência da liberação do
aborto. Tal como fizeram no plebiscito sobre o uso de armas.
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