São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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VAGUINALDO MARINHEIRO

Eu me amo

CONTA-SE que Lula decidiu não ler jornal no segundo semestre de 2005, auge do escândalo do mensalão. Temia ficar ainda mais deprimido com o caso que ameaçava seu mandato e, àquele momento, enterrava seu sonho de reeleição.
O tempo passou, a reeleição veio, o mensalão foi quase esquecido e ontem o presidente deve ter ficado o dia todo se deliciando com os jornais que traziam a cobertura de sua entrevista coletiva, apenas a segunda em cinco anos de governo.
O presidente parece não temer mais a depressão. Ao contrário, o Lula que se exibiu aos 15 jornalistas era todo sorrisos, desenvoltura, segurança. Aprendeu com os anos a só responder ao que quer e a driblar as perguntas mais espinhosas.
Além disso dá lustro a sua auto-estima com um ensaiado processo de validação, que inclui seu bordão "nunca antes na história deste país" e, em intervalos regulares, um auto-elogio nas respostas.
Na entrevista de terça, quando questionado sobre os altos juros, chegou a dizer que está "atingindo a perfeição". Em outra resposta disse que "vivemos o melhor momento econômico de toda a história da República".
O "Lulinha paz e amor" da campanha eleitoral de 2002, que deu lugar ao Lulinha abatido de 2005, se transformou agora no "Lulinha eu me amo".
Não que o presidente não tenha razão de estar feliz. Seu governo -por méritos próprios, mas principalmente graças ao favorável panorama econômico internacional- apresenta indicadores melhores que seu antecessor. Muitos são mesmo os melhores na história deste país. Mas ainda é pouco.
A economia brasileira está melhor, mas continua vulnerável. Dólares entram aos montes, mas ainda falta muito investimento e a moeda norte-americana abaixo dos R$ 2 pode ser o tiro de misericórdia em vários setores da indústria brasileira.
O crescimento do país permanece ridículo se comparado ao de outros emergentes e o propagandeado PAC continua apenas um amontado de papéis.
O perigo é o contentamento de Lula se traduzir em imobilismo e em recolhimento de louros fáceis. O presidente precisa ser lembrado todos os dias, pela leitura dos jornais, pelas TVs, rádios e sites noticiosos, que há muito trabalho pela frente.
Basta lembrar que o apagão aéreo mostra que o governo toma muitas bolas nas costas e que outros podem aparecer até 2010. E aí não vai adiantar fechar os olhos para as más notícias.


VAGUINALDO MARINHEIRO é secretário de Redação.


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