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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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POBRE CLASSE MÉDIA

Entre 1997 e 2002, as famílias brasileiras consideradas de classe média perderam mais de 30% de sua renda em valores reais (descontada a inflação). Metade dessa queda ocorreu em 2002, de acordo com a pesquisa realizada pela Ipsos-Marplan, publicada pela Folha.
Para tentar equilibrar-se a uma situação de renda menor (entre R$ 1.158 e R$ 4.696), essa parcela da população, que representa cerca de 17% do total de famílias brasileiras, cortou gastos, reduziu o lazer e adiou planos de consumo. A pesquisa mostrou que caíram drasticamente o consumo de bebidas, as viagens e a frequência a academias, clubes, teatros e restaurantes.
No mesmo sentido, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e da Agência Nacional de Saúde (ANS) explicitaram que cerca de 4 milhões de pessoas perderam seus planos de saúde nos últimos quatro anos. A onda de reestruturações e enxugamento de funcionários das empresas expulsou os usuários desses planos, grande parte deles oriunda da classe média.
Esses dados revelam um processo estrutural de empobrecimento da classe média brasileira, provocado pelo aumento do desemprego, pelas terceirizações e pela deterioração dos salários. Porém, um dos determinantes para essa queda no padrão de vida foi a disparada dos preços dos serviços e tarifas públicas. Os preços da gasolina, energia elétrica, telefonia e serviços pessoais subiram acima da inflação desde a desvalorização cambial em 1999, corroendo o poder aquisitivo da classe média.
Além de expressar as dificuldades por que passa a economia brasileira, há uma dimensão política embutida no empobrecimento da classe média. Seguramente, esse setor ajudou a eleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é um dos pilares de sustentação da sua popularidade. A se agravar a falta de perspectiva e a diminuição do poder aquisitivo dessas famílias, pode-se prever uma crescente erosão no apoio ao governo Lula.


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