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O xis da questão
"NÓS JÁ DERRAMAMOS
muito sangue por este
país. Não vamos desistir dele por causa de um mero
xis numa cédula. Como pode
uma caneta esferográfica enfrentar armas?" Nessa toada o
ditador do Zimbábue, Robert
Mugabe, faz campanha para o segundo turno da eleição presidencial do próximo dia 27.
Mugabe também já chamou
seu oponente, Morgan Tsvangirai, de traidor e ameaçou iniciar
uma guerra para não entregar o
poder no caso de vitória da oposição. Apesar desse e de outros
antecedentes, o Itamaraty insiste em enviar para o Zimbábue
uma missão de observadores
eleitorais. Na avaliação da diplomacia brasileira, o primeiro turno, já marcado por suspeita de
fraudes generalizadas, teve uma
votação "idônea e ordeira".
O Brasil participou do pleito de
29 de março na condição de observador, ao lado de outras nações tidas como neutras por Mugabe. A lista inclui China, Venezuela, Irã, Rússia, Sudão e Líbia.
Desde março, as irregularidade
se multiplicam. Os resultados do
primeiro turno levaram mais de
um mês para ser divulgados.
Tsvangirai foi preso e liberado
quatro vezes, e o número dois de
seu partido está na cadeia. Há informações de que gangues pró-Mugabe empreendem campanha de intimidação nas vilas em
que o ditador perdeu.
Compreende-se que o Itamaraty persiga a política externa
pragmática, que lhe permita influenciar variados atores. Tal
meta exclui a tomada de posições estritamente moralistas.
Mas o excesso de pragmatismo
também é um mal a ser evitado.
Existem alguns princípios em relação aos quais não se pode tergiversar, sob pena de acobertar e
coonestar barbáries. É esse sutil
limite entre saudável realismo e
necessário respeito a valores
universais que o Itamaraty, neste episódio, rompeu.
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