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ELIANE CANTANHÊDE
Pena de morte
BRASÍLIA - Há pena de morte no
Brasil? Legalmente, não. Na prática, sim. Sem tribunal, julgamento,
advogados de defesa, há dúzias de
execuções desde o Norte até o Sul
do país. E só atingem pobres. Em
geral, bandidos, mas nem sempre.
É o que parece ter ocorrido no
Rio, onde onze militares do Exército, inclusive um tenente, estão presos por deter e condenar à morte
três rapazes que voltavam de um
baile funk: Davi Florêncio da Silva,
24, Wellington Gonzaga Costa, 19, e
Marcos Paulo da Silva, 17, cujos corpos foram encontrados como lixo
num aterro sanitário.
Eles foram detidos no morro da
Providência, onde moravam, e despejados no da Mineira. Como os
traficantes dos dois morros são inimigos mortais, a intenção só podia
ser uma: entregá-los para morrer.
Se os rapazes fossem de fato bandidos, já seria um crime gravíssimo.
Mas, pelos depoimentos e reportagens até agora, eles trabalhavam ou
estudavam, um deles era pai de dois
filhos e nenhum dos três tinha ficha
na polícia, o que torna a ação dos
militares ainda mais brutal (aliás,
termo usado ontem por uma alta
patente).
As Forças Armadas saíram de
duas décadas no poder com um saldo de torturas, desaparecimentos e
mortes e passaram as duas décadas
seguintes empenhadas em profissionalizar seus quadros e amenizar
sua imagem. Agora mesmo, o Centro de Comunicação Social do Exército promove um seminário sobre
as relações com a imprensa e a interlocução com a sociedade. Imagine como a ação dos onze militares
do Rio chegou ao "Forte Apache"
(Quartel General).
E não é só: por causa deles, qualquer discussão sobre uma atuação
militar mais ostensiva na garantia
da lei e da ordem recua dois passos.
Porque esses oficiais e soldados reforçam na prática a tese de que, na
convivência e na proximidade entre
militares e bandidos, os bandidos
não viram militares. Mas pode muito bem ocorrer o contrário.
elianec@uol.com.br
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