São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Pena de morte

BRASÍLIA - Há pena de morte no Brasil? Legalmente, não. Na prática, sim. Sem tribunal, julgamento, advogados de defesa, há dúzias de execuções desde o Norte até o Sul do país. E só atingem pobres. Em geral, bandidos, mas nem sempre.
É o que parece ter ocorrido no Rio, onde onze militares do Exército, inclusive um tenente, estão presos por deter e condenar à morte três rapazes que voltavam de um baile funk: Davi Florêncio da Silva, 24, Wellington Gonzaga Costa, 19, e Marcos Paulo da Silva, 17, cujos corpos foram encontrados como lixo num aterro sanitário.
Eles foram detidos no morro da Providência, onde moravam, e despejados no da Mineira. Como os traficantes dos dois morros são inimigos mortais, a intenção só podia ser uma: entregá-los para morrer. Se os rapazes fossem de fato bandidos, já seria um crime gravíssimo.
Mas, pelos depoimentos e reportagens até agora, eles trabalhavam ou estudavam, um deles era pai de dois filhos e nenhum dos três tinha ficha na polícia, o que torna a ação dos militares ainda mais brutal (aliás, termo usado ontem por uma alta patente).
As Forças Armadas saíram de duas décadas no poder com um saldo de torturas, desaparecimentos e mortes e passaram as duas décadas seguintes empenhadas em profissionalizar seus quadros e amenizar sua imagem. Agora mesmo, o Centro de Comunicação Social do Exército promove um seminário sobre as relações com a imprensa e a interlocução com a sociedade. Imagine como a ação dos onze militares do Rio chegou ao "Forte Apache" (Quartel General).
E não é só: por causa deles, qualquer discussão sobre uma atuação militar mais ostensiva na garantia da lei e da ordem recua dois passos. Porque esses oficiais e soldados reforçam na prática a tese de que, na convivência e na proximidade entre militares e bandidos, os bandidos não viram militares. Mas pode muito bem ocorrer o contrário.

elianec@uol.com.br


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