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MONTORO, O REPUBLICANO
De André Franco Montoro, morto
ontem, pode-se dizer, sem correr o
risco de exagerar, que se tratava de
uma rara figura republicana na política brasileira. Ou, mais objetivamente, de um político genuinamente
preocupado com a coisa pública.
Chega a ser até uma cruel ironia o
fato de o seu destino político ter sido
negativamente afetado justamente
por esse tipo de preocupação. Quando se elegeu governador de São Paulo, em 1982, Montoro poderia ter seguido a linha de boa parte de seus antecessores (e que, de resto, seria retomada por seu sucessor), de buscar o
prestígio graças à execução de obras,
sem prestar atenção às possibilidades reais do erário.
Fez o inverso. Preferiu sanear as finanças de São Paulo, mesmo em
uma época em que equilíbrio orçamentário ainda não era uma regra de
ouro na condução dos negócios públicos. Essa atitude lhe custou muito,
politica e eleitoralmente.
Não obstante, a melhor memória
que Montoro deixará para a história
será a sua dedicação sem descanso à
campanha das "diretas-já", que ajudou a sitiar o regime militar e contribuiu poderosamente para a transição
para a democracia.
Não se trata de uma obra física.
Não é algo que receba uma placa comemorativa. Mas, para um defensor
do bem público, é talvez a mais inestimável das contribuições.
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