São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

UM ESTILO GAROTINHO?

Ele não tem de saída muitos pontos a favor para fazer sucesso em círculos mais altos da sociedade. Não é intelectual. Não é tucano nem governista. Não nasceu em berço de ouro. Dirige uma instituição altamente endividada. No entanto, é o governador de Estado mais bem avaliado, entre dez pesquisados recentemente pelo Datafolha, e tem conseguido participar do debate nacional, criando fatos novos. Trata-se de Anthony Garotinho, o pedetista que, há pouco mais de seis meses, assumia a chefia do Executivo fluminense.
Tem sido em boa medida ajudado pela conjuntura. Intelectuais e poder parecem não entrar em sintonia. A passividade gerada, talvez, pela confiança nos resultados do "processo", alardeada sobretudo pelo séquito de FHC, e a letargia da oposição tradicional transformam a política nacional em uma geleira de criatividade.
No momento, o governador do Rio de Janeiro destoa desse quadro com lances de habilidade política e de marketing. Tenta renegociar a dívida do Estado utilizando os royalties a que tem direito pela exploração de petróleo. Processa nos EUA empresas de cigarro. Na área de segurança, adota medidas que visam a colocar mais servidores no policiamento ostensivo e outras para reprimir abusos da força policial. Envia para a opinião pública a imagem de que é governador de oposição, mas consegue até de bom grado vantagens financeiras do governo federal.
Por esses meios tem conseguido permanecer no noticiário local e nacional. Desponta um estilo Garotinho? É muito cedo para dizer. Mas o que podem ser seus rebentos iniciais prenunciam uma pá de cal no brizolismo tradicional e sua substituição por um outro tipo de populismo.
Este calcado principalmente numa abordagem até aqui habilidosa de espaços políticos de ressonância -como é o caso da segurança pública-, que abandona o estilo verborrágico e anacrônico de Brizola para procurar uma ligação mais direta e menos conflituosa com a mídia e mesmo com o governo federal.
Há no entanto, sobre o governador do Rio de Janeiro, duas indagações: suas polêmicas medidas gerarão bons resultados em médio prazo, ou serão mera estratégia de marketing político? Caso obtenha êxito, crescerá a ponto de, como geralmente acontece aos populistas, procurar atalhos que escapem à via partidária para vôos mais altos? Aguardem-se as próximas travessuras de Garotinho. E se elas de fato redundarão, enfim, em bom governo.



Texto Anterior: Editorial: MONTORO, O REPUBLICANO
Próximo Texto: Editorial: CRIANÇAS NA ESCOLA DO CRIME

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.