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UM ESTILO GAROTINHO?
Ele não tem de saída muitos pontos
a favor para fazer sucesso em círculos
mais altos da sociedade. Não é intelectual. Não é tucano nem governista. Não nasceu em berço de ouro. Dirige uma instituição altamente endividada. No entanto, é o governador
de Estado mais bem avaliado, entre
dez pesquisados recentemente pelo
Datafolha, e tem conseguido participar do debate nacional, criando fatos
novos. Trata-se de Anthony Garotinho, o pedetista que, há pouco mais
de seis meses, assumia a chefia do
Executivo fluminense.
Tem sido em boa medida ajudado
pela conjuntura. Intelectuais e poder
parecem não entrar em sintonia. A
passividade gerada, talvez, pela confiança nos resultados do "processo",
alardeada sobretudo pelo séquito de
FHC, e a letargia da oposição tradicional transformam a política nacional em uma geleira de criatividade.
No momento, o governador do Rio
de Janeiro destoa desse quadro com
lances de habilidade política e de
marketing. Tenta renegociar a dívida
do Estado utilizando os royalties a
que tem direito pela exploração de
petróleo. Processa nos EUA empresas de cigarro. Na área de segurança,
adota medidas que visam a colocar
mais servidores no policiamento ostensivo e outras para reprimir abusos
da força policial. Envia para a opinião
pública a imagem de que é governador de oposição, mas consegue até
de bom grado vantagens financeiras
do governo federal.
Por esses meios tem conseguido
permanecer no noticiário local e nacional. Desponta um estilo Garotinho? É muito cedo para dizer. Mas o
que podem ser seus rebentos iniciais
prenunciam uma pá de cal no brizolismo tradicional e sua substituição
por um outro tipo de populismo.
Este calcado principalmente numa
abordagem até aqui habilidosa de espaços políticos de ressonância -como é o caso da segurança pública-,
que abandona o estilo verborrágico e
anacrônico de Brizola para procurar
uma ligação mais direta e menos
conflituosa com a mídia e mesmo
com o governo federal.
Há no entanto, sobre o governador
do Rio de Janeiro, duas indagações:
suas polêmicas medidas gerarão
bons resultados em médio prazo, ou
serão mera estratégia de marketing
político? Caso obtenha êxito, crescerá a ponto de, como geralmente
acontece aos populistas, procurar
atalhos que escapem à via partidária
para vôos mais altos? Aguardem-se
as próximas travessuras de Garotinho. E se elas de fato redundarão, enfim, em bom governo.
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