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Como
distribuir
a renda?
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Impressiona, sem dúvida, saber que
o Brasil, apesar dos esforços do governo, continua longe de conseguir uma
adequada distribuição de renda. Os
números são conhecidos. Nosso patriotismo sente-se atingido ao perceber que a maioria de outros países alcança índices melhores de distribuição e convivência humana mais solidária.
Essa desigualdade social, crônica,
desafia, em especial, a consciência
cristã do povo brasileiro. Não é coerente com a nossa fé proclamar a fraternidade dos filhos de Deus e o mandamento do amor da nova lei e, ao
mesmo tempo, conviver com a pobreza atroz dos que procuram matar a fome com os restos do lixão. Uma explicação dessa nossa atitude de frieza e
apatia é o crescente individualismo
dos tempos atuais, que fecha o coração ao sofrimento alheio.
Não podemos nos habituar com a situação injusta em que se encontram
tantos concidadãos. Mais. Diante de
Jesus Cristo temos que rever nosso
comportamento pessoal e social.
A prática religiosa de muitos cristãos
torna-se intimista ou assume expressões emocionais dissociadas das exigências éticas e da co-responsabilidade cristã pelo bem do próximo. Se em
algumas comunidades há sérios e eficazes serviços sociais, em outras faltam essas iniciativas e crescem aspectos mais festivos e alheios ao clamor
dos pobres.
Frente a essa realidade e cada vez
mais próximos do Grande Jubileu de
nossa fé, deixemo-nos questionar em
nossa consciência, abrindo-nos à atitude de conversão e de enfrentamento
dos desafios.
A primeira experiência é a de voltarmo-nos mais para Deus e o mistério
da sua vida trinitária, fonte de gratuidade, doação e comunhão. É à luz de
Deus que compreenderemos o sentido da vida. Com efeito, um dos aspectos mais perniciosos do individualismo nasce da concepção de um mundo
temporal, sem transcendência nem
continuidade, termo único de nossa
existência. Segue-se daí a sede descontrolada de possuir e usufruir ao máximo os bens materiais.
Temos que descobrir a presença e
ação de Deus, que é Pai misericordioso, que nos ama e chama à felicidade, à
união plena com ele e entre nós, agora
e além da morte. É ainda em Deus que
percebemos, em profundidade, o valor de toda pessoa humana. A solidariedade cristã é fruto dessa percepção.
Ninguém se dedica ao próximo se não
tem um grande amor. Os maiores
exemplos de doação aos mais pobres
são de pessoas que encontraram em
Deus a força para se devotar, com alegria e generosidade, ao bem dos irmãos.
O olhar de irmã Dulce, atendendo os
doentes, e o sorriso de madre Teresa,
acolhendo os miseráveis, revelam ao
mundo o amor do próprio Deus.
A renda não será distribuída no Brasil, nem as leis serão suficientes, enquanto cada um de nós se enclausurar
no próprio eu, acumulando, de modo
doentio, bens materiais, que não levaremos para além desta vida. Como
distribuir a renda?
A solução é simples, embora exigente. Basta amar. Amar o próximo como
Jesus Cristo nos ensinou.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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