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A"famiglia"
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Não tenho nenhuma
simpatia por Renan Calheiros. Como
todo mundo, o associo ao grupo que
chegou ao poder com Fernando Collor
-e isso não o recomenda.
Tampouco tenho simpatia por Mário Covas, que me parece o tucano
mais empostado, tipo matrona de Éfeso. No bate-boca desta semana entre
os dois, fiquei ao lado de Renan. E explico:
Covas o acusou de contestar o presidente no caso da Polícia Federal. Com
a leviandade que o caracteriza, FHC
nomeara um suspeito de ser torturador para a chefia da PF. Renan foi
contra. Suportou humilhações mas foi
contra. Tinha ele, então, provas de que
Campelo tolerara e participara da tortura de um ex-padre.
Arriscou o cargo mas contestou uma
ordem moralmente indefensável. Ao
contrário dos nazistas que cumpriam
ordens para matar judeus e adversários, ele preferiu cair em desgraça. Foi
um dos momentos mais dignificantes
de nossa desmoralizada vida pública.
Ao acusá-lo de ter resistido ao presidente, Mário Covas revelou o tamanho de sua visão política. Políticos como ele, para usufruírem o poder, obedecem à ordem -seja ela qual for.
Esse tipo de político se inspira nas organizações da máfia. As ""famiglias"
estabelecem regras que, sejam elas
quais forem, terão de ser seguidas.
Às vésperas da pretendida reforma
ministerial, FHC reuniu a ""famiglia"
em São Paulo: Covas, Serra e outros
""capi" do tucanato. Ali decidiram
quem receberia o peixe embrulhado
em jornal.
O critério para distribuir esse tipo de
aviso fúnebre é o mesmo que sustenta
a máfia: a ordem, mesmo a imoral,
tem de ser cumprida. Só assim a ""famiglia" terá condições de continuar
no poder.
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