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A aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente tem sido eficaz?
SIM
Compromisso com a infância
REIKO NIIMI
Na última terça, dia 14, o Estatuto da
Criança e do Adolescente completou
nove anos. No dia do aniversário do
ECA, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef) lançaram o
projeto "Dez Anos do Estatuto da
Criança e do Adolescente: Avaliar Resultados para Definir Metas".
Nossa grande tarefa é avaliar o que
foi e está sendo feito para a promoção
dos direitos da criança e do adolescente no Brasil e o que queremos realizar
em cinco ou dez anos. Até 13 de julho
de 2000, quando o estatuto completa
sua primeira década, toda a sociedade
brasileira está convidada a participar
desse debate e a contribuir com ele.
Não será um trabalho fácil. Ao longo
dos últimos anos, o estatuto sempre
esteve na berlinda, como não poderia
deixar de ser.
Na luta pelos direitos das crianças no
Brasil, o ECA é um divisor de águas entre a doutrina da situação irregular e o
atual desejo da sociedade -expresso
nessa lei pioneira e revolucionária, de
uma ética fundamentada na proteção
integral e na prioridade absoluta.
O estatuto mudou a forma como a
sociedade vê suas crianças e seus adolescentes. Eles passam a ser seres humanos no sentido mais amplo do termo. São detentores de direitos, não somente de necessidades.
São, ainda, portadores de direitos especiais, porque estão em processo de
desenvolvimento. Precisam ser protegidos, uma vez que carregam em si o
nosso futuro: de nosso país, de nosso
povo, da humanidade.
Não há dúvida: em quase dez anos de
estatuto, há o que comemorar. A estrutura de participação criada pelo
ECA -principalmente os conselhos
de direitos e tutelares- está implantada na União, em todas as unidades da
Federação e em muitos municípios. O
movimento social pela infância e pela
adolescência é um dos mais ativos do
país.
Conforme demonstrou o Relatório
do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, divulgado na semana
passada, os indicadores de saúde e
educação melhoram, embora o país tenha um longo caminho a percorrer
nessas duas áreas para se tornar uma
nação mais justa socialmente.
Além disso, as ameaças de retrocesso
na legislação (há quem insista em confundir proteção integral com impunidade), embora persistentes, ainda não
foram capazes de gerar resultados práticos. Ao contrário: o ECA serviu como
inspiração para legisladores de mais de
15 países latino-americanos.
Outra conquista: vemos, a cada dia, a
educação substituir gradativamente os
"grupos de risco" ("meninos de rua",
por exemplo) como eixo principal do
debate em torno dos direitos das
crianças e dos adolescentes brasileiros.
A mídia, vale ressaltar, tem um papel
fundamental nesse positivo "deslocamento de eixo". Tirou meninos e meninas das páginas policiais para levá-los às editorias de educação e aos espaços destinados à promoção dos direitos humanos. São muitos os avanços.
Porém dificuldades existem -e não
são pequenas. As Febems, heranças do
modelo correcional-repressivo, persistem. Os conselhos de direitos e tutelares têm grandes dificuldades de funcionamento. As defensorias públicas,
na maioria das vezes, trabalham precariamente. Há graves distorções na divisão de recursos entre Estados e municípios. E a sempre alegada dificuldade econômica faz com que projetos interessantes fiquem restritos a pequenas escalas, em um país com 58 milhões de crianças e adolescentes.
Daí a importância desses 12 meses de
reflexão. Trata-se de uma oportunidade única para definir com clareza a responsabilidade de cada um: Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, empresários, igrejas, sociedade civil.
Numa feliz coincidência, quando o
país estiver celebrando os 500 anos do
encontro da cultura européia com as
culturas das civilizações indígenas,
também será a hora de comemorarmos os dez anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Uma década do
compromisso de proteção integral e de
prioridade absoluta assumido pelo
Brasil com seus meninos.
Reiko Niimi, 41, mestre em direito e diplomacia pela
Fletcher School of Law and Diplomacy e em saúde
pública pela Universidade da Califórnia (EUA), é representante no Brasil do Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância).
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