São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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VITÓRIA DE CHÁVEZ

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, saiu vitorioso do plebiscito que poderia ter abreviado seu mandato. Com cerca de 58% dos votos, o líder populista se reafirma como representante legítimo dos venezuelanos e deve ficar no poder até janeiro de 2007.
A oposição, como era de esperar, fala em "fraudes maciças". A denúncia, contudo, não é corroborada pelos observadores internacionais que supervisionaram o processo plebiscitário. O Centro Carter e a OEA (Organização dos Estados Americanos) chancelaram os resultados oficiais. Disseram que os dados apresentados pelo Conselho Nacional Eleitoral são consistentes com suas projeções.
Se os adversários de Chávez de fato têm informações relativas a vícios eleitorais, devem apresentar provas. Se não as tiverem, precisam aceitar pacificamente o resultado das urnas e passar a fazer oposição dentro dos espaços institucionais previstos, em especial o Parlamento. Nem a Venezuela nem o continente devem aceitar rupturas antidemocráticas.
Quanto a Chávez, o fato de ter vencido o pleito e confirmado sua legitimidade não basta para torná-lo um autocrata nem para imunizá-lo contra críticas. Longe disso, o resultado mostra que o país está dividido, que pouco mais de 40% dos venezuelanos querem vê-lo na rua. E um presidente não pode ser presidente para apenas metade do país.
Chávez precisa desenvolver a capacidade de aprender com seus erros. Deve, antes de mais nada, reconhecer que a rota de confronto em que ajudou a colocar o país foi prejudicial para todos. Agora que venceu e renovou sua liderança, deve atuar com magnanimidade, ouvindo as reivindicações dos adversários e procurando dar-lhes um encaminhamento adequado. A Venezuela precisa redescobrir a política como espaço de resolução negociada dos conflitos. Só isso poderá livrar o país do espectro de uma guerra civil.


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