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Desaceleração geral
Crise alimenta tendência recessiva no mundo; menos exportação e crédito devem limitar o crescimento do Brasil
PELO SEGUNDO dia consecutivo as autoridades
americanas contrariaram as expectativas dos
mercados financeiros globais.
Na segunda-feira, o Tesouro negara-se a empenhar recursos públicos para impedir a quebra de
um grande banco de investimentos. Ontem o Fed (banco central)
manteve sua taxa de juros básica
em 2% ao ano. No olho do furacão, Wall Street, que esperava
um corte, foi pega de surpresa.
Ainda falta clareza sobre o que
motivou a mudança de atitude
das autoridades dos Estados
Unidos. Até recentemente, diziam dar prioridade ao combate
à recessão, em detrimento da política antiinflacionária, e mostravam-se dispostas a socializar
perdas para sustentar a confiança no sistema financeiro.
É provável, contudo, que a nova atitude comporte exceções,
pois o governo estaria propenso,
a julgar pelo noticiário de ontem,
a estatizar a AIG, uma das maiores seguradoras do mundo, que
se aproxima da insolvência. Nem
mesmo as autoridades norte-americanas, portanto, parecem
ter segurança acerca dos caminhos a seguir.
De todo modo, o fato é que a
crise atingiu patamares dramáticos nesta semana. A evidência de
que os excessos especulativos
são a sua causa deverá levar, à
frente, a uma regulação bem
mais estrita das instituições financeiras, tanto nos EUA como
nas demais economias.
Outra implicação, mais imediata, será a alimentação de vetores recessivos, como a piora das
expectativas, a queda nos preços
dos ativos financeiros e a retração do crédito bancário. O diretor do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, estimou que "toda a economia mundial vai se desacelerar entre meio ponto e dois pontos percentuais, inclusive a China e a Europa".
Embora esteja muito mais protegida do que até há poucos anos,
a economia brasileira não deixará de sofrer contágio.
O acesso ao crédito externo já
ficou mais difícil e mais caro. Os
prazos dos empréstimos para
empresas brasileiras foram encurtados. A desvalorização das
ações na Bovespa reduziu o valor
das companhias, o que diminui
sua capacidade de tomar dinheiro emprestado para manter os
negócios em expansão.
Já o enfraquecimento das economias industrializadas reduz a
demanda pelas exportações brasileiras. O faturamento com as
vendas ao exterior também sofrerá o impacto da queda dos
preços de vários produtos básicos exportados pelo Brasil, as
chamadas commodities.
Todos esses movimentos reforçam a perspectiva de redução
no ritmo de crescimento do mercado doméstico. Por essa via, e
também por conta da maior dificuldade de obter financiamento,
tende a diminuir o estímulo ao
investimento produtivo.
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