São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Por que votar em Marta

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY

Os paulistanos estão vivendo uma das belas disputas de nossa história ao terem de sufragar, em 31 de outubro próximo, Marta Suplicy, do PT, ou José Serra, do PSDB. Participamos juntos das lutas pelas Diretas-Já e Por Ética na Política, em 1983-84 e 1992, respectivamente, e tivemos algumas raízes comuns.
Tenho a convicção, entretanto, de que a prefeita Marta Suplicy vem realizando um trabalho notável, sobretudo no sentido de promover maior justiça em nossa cidade. Isso vai contribuir para que todos possamos viver com melhor qualidade, maior harmonia e de acordo com os anseios de solidariedade e fraternidade.
Os resultados do primeiro turno mostraram que as zonas eleitorais mais distantes, onde vive a população mais carente, deram vitória a Marta, enquanto José Serra venceu nas zonas eleitorais onde mora a população de maior renda e onde os serviços públicos e privados fazem lembrar os de cidades desenvolvidas. Mesmo os paulistanos que vivem nesses bairros -como eu e a própria prefeita- percebem que investimentos e programas que melhorem a qualidade de vida dos paulistanos que até havia pouco estavam tão desprovidos dos direitos à cidadania irão melhorar a vida de todos.


A área dos programas sociais é uma daquelas em que Marta mais inovou, ao instituir nove programas de inclusão social


Os 21 CEUs, ou Centros Educacionais Unificados, constituem uma melhoria notável percebida pelas pessoas que os conhecem. A combinação da creche com as escolas de ensino fundamental e médio, mais o telecentro, o cinema e o teatro para múltiplas atividades, inclusive o aprendizado de música e dança, as quadras esportivas, como as de basquete, futebol, vôlei e skate, as piscinas, tudo construído em bairro normalmente distante de qualquer área de cultura e diversão, demandou sensibilidade e coragem da prefeita. Os 24 CEUs que ela pretende construir no próximo quadriênio são sem dúvida uma meta saudável, pois também serão edificados onde a cidade é mais carente.
Há outras marcas positivas, como a distribuição de uniformes escolares para todas as crianças e uma melhoria nutricional considerável na merenda escolar. Os professores municipais têm uma remuneração maior do que os da rede estadual, o que em si representa melhor qualidade de ensino.
Marta enfrentou com determinação o conluio que havia entre alguns segmentos que impediam a melhoria do sistema de transporte coletivo. Renovou praticamente toda a frota, instituiu o Passa Rápido e o Bilhete Único. Ela pode agora avançar na integração do sistema com o metrô, os trens e os ônibus metropolitanos e ainda instituir os bilhetes de fim de semana, o semanal e o mensal, como acontece em grandes capitais no mundo.
Na saúde, depois de reconstruir o que vinha de uma situação difícil deixada pelo PAS e reinstituir o Sistema Único de Saúde, com especial expansão do Programa de Saúde da Família, Marta vai realizar uma revolução semelhante à que vem fazendo com os CEUs na educação.
A área dos programas sociais, entretanto, é uma daquelas em que Marta mais inovou, ao instituir nove programas de inclusão social. Destes, o mais importante foi o de renda mínima associada à educação, que, de 2001 a 2004, beneficiou cerca de 270 mil famílias.
O Renda Mínima, que em São Paulo tem o melhor desenho e benefício dentre todos os aplicados no Brasil, garante não apenas alguma renda a quem de outra forma não a teria mas dá apoio às famílias para que as crianças freqüentem a escola, além de aumentar a atividade econômica, proporcionar maior arrecadação de impostos e aumentar o emprego. Estudos da Secretaria de Trabalho do município têm mostrado que a taxa de desemprego em São Paulo seria pelo menos quatro pontos percentuais maior se não fosse o programa.
Em decorrência disso, houve uma acentuada diminuição da taxa de homicídios em São Paulo: ela passou de 57,3 por 100 mil habitantes, no biênio 1999/ 2000, para 51,6 no triênio 2001/2003. Foi pelos 13 distritos mais carentes e problemáticos, onde era menor a renda per capita, maior a taxa de desemprego e de violência criminal, que Marta iniciou o Renda Mínima. E foi justamente nesses lugares que se verificou a mais acentuada redução da taxa de homicídios, passando de 73,7 por 100 mil, em 2000, para 59,7 em 2003. Isso não é pouco para uma cidade que tem na violência uma de suas principais preocupações.
O dinamismo de Marta também se fez sentir nos bairros de maior poder aquisitivo, já que os recursos das operações urbanas só permitem a sua aplicação nas próprias áreas. Eis como surgiram os túneis das avenidas Rebouças e Cidade Jardim. Embora tenham causado transtorno no trânsito de janeiro a setembro deste ano, todos agora estão percebendo que as obras resultaram numa economia significativa de tempo, tanto para os que andam de carro como -e principalmente- para os que precisam de ônibus.
Por tudo o que já fez e pelo que fará, Marta merece continuar a ser nossa prefeita.

Eduardo Matarazzo Suplicy, 63, doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA), senador pelo PT-SP, é professor da Eaesp-FGV.


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