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DUELO DE POTÊNCIAS
Ganhou substância o debate sobre abertura comercial na
agricultura com a proposta divulgada ontem pela União Européia. Classificada como "tímida" por diplomatas brasileiros, essa investida dos europeus se enquadra numa estratégia
para desbloquear a pauta aberturista
da Organização Mundial do Comércio e, ao mesmo tempo, responde à
oferta de abertura de mercados feita
pelos Estados Unidos recentemente.
Enquanto os EUA propugnaram
por uma abertura aparentemente
mais "radical" do setor, defendendo,
por exemplo, o fim dos subsídios a
exportações agrícolas e uma sensível
redução do apoio local a agricultores, a proposta da UE soa mais conservadora. O bloco europeu advoga
uma redução de 45%, em média, nos
subsídios às exportações, bem como
uma redução de 36% nas tarifas de
importação e uma diminuição de
55% no auxílio a produtores agrícolas. Além disso, a UE deseja ver esse
alívio aberturista ser realizado em
suaves etapas, para ser concluído
apenas em 2013.
Parece evidente que o conteúdo da
oferta dos europeus interessa pouco
ao Brasil, país extremamente competitivo em agricultura e, portanto, apto a conquistar mercados, desde que
diminuam as barreiras globais ao comércio agrícola. Mas não se devem
desprezar outros dois aspectos da
proposta da UE.
Em primeiro lugar, os europeus
concedem a países em desenvolvimento, especialmente aos mais pobres entre eles, melhores condições,
seja no acesso ao mercado interno
dos países desenvolvidos, seja no
prazo para a implementação da abertura. Outro ponto positivo a ser considerado é a aparente disposição da
UE de tocar num tema tradicionalmente delicado de sua política interna, ainda que o resultado final de sua
primeira proposta tenha ficado
aquém do desejado.
Ainda é cedo para assumir uma
perspectiva otimista acerca da abertura do mercado agrícola. Mas já não
se pode dizer que os principais atores
nessa discussão adotem uma posição meramente defensiva.
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