São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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OPERAÇÃO DIAMANTE

Não é novidade que o crime organizado mantenha em sua folha de pagamentos um sem-número de autoridades públicas. A capacidade de corromper em larga escala é uma das características que distingue as modernas redes de tráfico de entorpecentes. Mesmo ciente disso, é difícil deixar de surpreender-se com o grau de contaminação do Estado pela criminalidade.
A exemplo do que ocorrera com a CPI do Narcotráfico, os resultados da investigação cognominada Operação Diamante mostram que são muitas e profundas as ligações do crime organizado com policiais, políticos e até magistrados.
Depois de três anos de investigações sigilosas, revelou-se que um bando de traficantes havia conseguido estabelecer, com a participação de membros do Poder Judiciário, uma indústria de habeas corpus. Membros da quadrilha que fossem presos eram rapidamente libertados e podiam voltar às suas atividades delituosas. Pelo que apontam as investigações, estariam envolvidos nesse esquema dois desembargadores federais e até um ministro do Superior Tribunal de Justiça, além de um conhecido deputado federal.
O fenômeno da corrupção de autoridades públicas por redes criminosas não é uma exclusividade do Brasil. Onde quer que existam bandidos poderosos e Estado, haverá um ou outro caso de contaminação. A sensação que fica, porém, é a de que, no Brasil, o grau de deterioração excedeu já há muito os limites do que seria tolerável.
Não se trata aqui de criar novas leis para combater o crime organizado e a corrupção de autoridades. Tais normas já existem. O que é preciso fazer é pô-las a funcionar, mostrando que a impunidade não é uma certeza. Investigações como a Operação Diamante, bem conduzidas e que reúnem provas contundentes, precisam multiplicar-se. O país não pode admitir que alguns maus funcionários públicos sigam desmoralizando as mais altas funções de Estado.


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