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ELIANE CANTANHÊDE
Risos e lágrimas
BRASÍLIA - Não há como não se comover diante das lágrimas do migrante, do torneiro mecânico, do maior líder sindical da história, ao
receber o diploma de presidente da República do Brasil. Foi de arrepiar.
Mas, além dos motivos humanos, naturais, há muitos outros para o
choro de Lula. A rotina de aviões, escolhas, reuniões -até com o presidente da maior potência do planeta- é de estressar qualquer um.
Imagine só as negociações com Brizola, Garotinho, Ciro e com o PMDB.
Ou melhor, com os PMDBs! É pior do
que se digladiar com Itamar pela imprensa. E só não é pior do que aguentar a ira do PT. A foto de Lula, Palocci e Dirceu, ao anunciarem Henrique
Meirelles para o BC, parecia de enterro. Só um ria: o próprio Meirelles. O
resto pensava nos radicais.
Sinceramente, eu não queria estar
na pele de Armínio Fraga quando
enfrentou as feras do PT na sabatina
para ser nomeado presidente do BC.
Como não queria estar na de Henrique Meirelles, hoje, no Senado.
Não que o PT tivesse munição para
impedir a posse de Armínio ou que
tenha para evitar a de Meirelles. Mas
é uma chateação. A diferença é que o
PT chateava Armínio quase sozinho.
Agora, o PSDB, o PFL e o próprio
PMDB podem estrear. Será que vão
reagir a Meirelles como o PT reagiu a
Armínio? Ou "oposição responsável"
pergunta só por perguntar?
Vale lembrar, também, que o provocador-mor dos embates no Senado
não é do PT, mas, sim, o peemedebista Pedro Simon (RS). Foi ele, por
exemplo, quem empurrou Mendonça
de Barros contra a parede, apesar dos
bons argumentos do então ministro.
Naquela época, Simon era "aliado"
de FHC. Agora, é candidato a ministro de Lula. E é curioso saber o que isso muda, se muda. Entre a implicância óbvia da petista Heloísa Helena e
a performance sempre teatral de Simon, o suspense fica com o senador
gaúcho -que, além de tudo, representa um partido vai-não-vai.
Hoje é dia de comprar pipoca e assistir. Para conferir se é o caso de todos rirem ou de Lula voltar a chorar.
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