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CLÓVIS ROSSI
A visita da velha senhora
MONTEVIDÉU - Houve uma vez um momento em que o presidente argentino, Néstor Kirchner, ficou magoado
com seu colega brasileiro, "meu amigo Lula", como o próprio Kirchner
gosta de repetir: foi quando Lula se
fez de morto para não receber telefonema em que Kirchner pediria solidariedade quando do calote no Fundo Monetário Internacional.
Como o calote foi efêmero, o mal-estar também foi passageiro. Aliás, o
ministro Antonio Palocci Filho nega
que tenha havido problemas. Sugere
que os jornalistas procurem o registro
das posições do representante do Brasil no FMI para verificar como foi sólido o apoio à Argentina.
Creio em Palocci, mas é um argumento burocrático. Kirchner queria
apoio político, o que é diferente.
Bom, seja como for, essa questão começa a voltar para assombrar Lula,
Palocci, Kirchner e cia.
Ontem, como o leitor verá em detalhes no caderno Dinheiro, o presidente argentino denunciou pressões
não especificadas para obrigar a Argentina a aumentar seus pagamentos ao exterior, apenas três meses depois de um acordo com o Fundo considerado excepcional pelo governo
Kirchner.
Excepcional porque abriria perspectivas de redução da pobreza, de
crescimento econômico e por aí vai,
sempre na interpretação argentina.
Kirchner bateu duro e pediu, de
maneira talvez excessivamente velada, solidariedade de seus pares do
Mercosul. O Brasil daria, agora, a solidariedade política (não apenas burocrática) que negou antes?
Lula saiu pela tangente ao responder a uma pergunta desse gênero,
mas amparado em fatos: a solidariedade não foi pedida, e não é o caso de
dar "palpites" em negociações
alheias sem ser chamado.
Mas, se há de fato a pressão denunciada por Kirchner, o tema vai revisitar a agenda de todo o subcontinente.
Até porque sair do calote que a Argentina decretou faz dois anos é bem
mais complicado do que entrar nele.
Aí, será difícil para o governo Lula
fingir-se de novo de morto.
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