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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A visita da velha senhora

MONTEVIDÉU - Houve uma vez um momento em que o presidente argentino, Néstor Kirchner, ficou magoado com seu colega brasileiro, "meu amigo Lula", como o próprio Kirchner gosta de repetir: foi quando Lula se fez de morto para não receber telefonema em que Kirchner pediria solidariedade quando do calote no Fundo Monetário Internacional.
Como o calote foi efêmero, o mal-estar também foi passageiro. Aliás, o ministro Antonio Palocci Filho nega que tenha havido problemas. Sugere que os jornalistas procurem o registro das posições do representante do Brasil no FMI para verificar como foi sólido o apoio à Argentina.
Creio em Palocci, mas é um argumento burocrático. Kirchner queria apoio político, o que é diferente.
Bom, seja como for, essa questão começa a voltar para assombrar Lula, Palocci, Kirchner e cia.
Ontem, como o leitor verá em detalhes no caderno Dinheiro, o presidente argentino denunciou pressões não especificadas para obrigar a Argentina a aumentar seus pagamentos ao exterior, apenas três meses depois de um acordo com o Fundo considerado excepcional pelo governo Kirchner.
Excepcional porque abriria perspectivas de redução da pobreza, de crescimento econômico e por aí vai, sempre na interpretação argentina.
Kirchner bateu duro e pediu, de maneira talvez excessivamente velada, solidariedade de seus pares do Mercosul. O Brasil daria, agora, a solidariedade política (não apenas burocrática) que negou antes?
Lula saiu pela tangente ao responder a uma pergunta desse gênero, mas amparado em fatos: a solidariedade não foi pedida, e não é o caso de dar "palpites" em negociações alheias sem ser chamado.
Mas, se há de fato a pressão denunciada por Kirchner, o tema vai revisitar a agenda de todo o subcontinente. Até porque sair do calote que a Argentina decretou faz dois anos é bem mais complicado do que entrar nele. Aí, será difícil para o governo Lula fingir-se de novo de morto.


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