|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Risco Brasil e desenvolvimento
Neste último "suelto" do ano,
tomo a liberdade de tentar esclarecer dois assuntos que têm sido levantados por alguns leitores. O primeiro refere-se à afirmativa de que o
mais importante fato ocorrido com a
eleição do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva tenha sido o reconhecimento,
pelo mundo político internacional, de
uma mudança definitiva do nosso
"status" político. Com a tranquila e
elegante sucessão entre Fernando
Henrique Cardoso e o atual presidente, o Brasil fica a dever-lhes sua definitiva promoção política: de "republiqueta" nos transformamos em República Latino-Americana, encerrando o
ciclo de eventuais e aleatórios desrespeitos à Constituição de plantão. A
Constituição de 1988, com todos os
seus problemas, vai consolidando velozmente nossas instituições democráticas e está aí para ficar.
Uma das sugestões que utilizamos
para mostrar aquele fato foi a queda
do risco Brasil desde a pose de Lula,
em janeiro de 2003, que foi maior do
que a redução do risco médio dos países emergentes. Um dos leitores observou, corretamente, que "a situação
em janeiro era de grande incerteza, de
forma que a queda do risco provava
muito pouca coisa". É claro que o risco Brasil tem um co-movimento com
o risco médio dos países emergentes.
Entretanto é a diferença de queda entre eles que "mede", digamos, o "efeito
Brasil". Não parece, portanto, absurdo supor que a queda mais rápida do
risco Brasil se tenha devido, em parte,
a um aumento da liquidez internacional (que afeta todos os países) e, em
parte, à eliminação do "risco Lula"
que estava embutido no risco Brasil de
janeiro.
Um segundo problema que tem sido
levantado por alguns leitores refere-se
à recente discussão sobre a receita para o desenvolvimento econômico rápido: taxa de juros real baixa e taxa de
câmbio real desvalorizada, com controle do movimento de capitais e acumulação de reservas para ganhar credibilidade. Quem não conhece o axioma "moeda forte, economia fraca"? O
modelo ajuda a "explicar" os milagres
do crescimento do Japão, da Alemanha e da Itália depois da Segunda
Guerra Mundial. Ele foi, em certa medida, utilizado no Brasil num passado
não muito recente e tem sido utilizado
no presente pelos países asiáticos. O
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) preparou
uma tabela, publicada na própria Folha, que, ao comparar a variação do
PIB e a variação do IDH (entre 1980 e
2001) com a variação do câmbio real
médio dos países (1980-1990 e 1990-2001) e a taxa de juro real média (1990-2001), sugere uma relação relativamente estreita entre taxa média de
crescimento do PIB com câmbio real
desvalorizado e taxa de juro real baixa.
A receita é interessante, mas está
longe de ser "universal", isto é, de poder ser utilizada em qualquer economia e sob qualquer condição, uma vez
que produz efeitos colaterais. Em condição de déficits fiscais e de limitação
do endividamento público, a manipulação simultânea da taxa de juro real e
da taxa de câmbio real pode tornar indeterminado o sistema de preços: leva
ao pleno emprego juntamente com
aumento da taxa de inflação. Essa é a
combinação ideal para o estabelecimento de medidas defensivas na distribuição de renda (correção monetária) e para a criação das condições que
acelerem ainda mais a inflação. É preciso muito cuidado e imaginação para
manter o controle monetário sob uma
crescente acumulação de reservas.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O cheiro do dinheiro Próximo Texto: Frases
Índice
|