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CARLOS HEITOR CONY
O cheiro do dinheiro
RIO DE JANEIRO - Não sei até que ponto o presidente Lula é versado em
clássicos nem mesmo se conhece do
ultrapasssado latim aqueles ditados
que advogados e subliteratos de todos
os calibres gostam de citar.
Acredito piamente que ele deva ter
ouvido falar do imperador Vespasiano, que mandou cobrar impostos dos
mictórios de Roma. Seu filho foi reclamar: assim não, era demais, taxar
secreções não ficava bem ao império
que era o dono do mundo de então.
Vespasiano respondeu ao filho:
"Pecunia non olet". Tradução adaptada: dinheiro não fede nem cheira. É
evidente que Lula andou queimando
as pestanas em cima dos clássicos,
pois deu resposta aproximada às críticas que lhe fizeram durante a viagem aos países árabes, sobretudo à
Líbia, governada há anos por um dos
tiranos mais notórios do nosso tempo. Dinheiro não fede. Em nome de
possíveis investimentos para elevar
uma balança comercial que sempre
balança e costuma cair, vale qualquer esforço para estreitar os laços de
fraternidade com outros governos.
Durante este primeiro ano de governo, sempre elogiei as andanças do
nosso presidente mundo afora. Ele
continua sendo um animal exótico
no panorama internacional, e é bom
que o seja, pois isso rende simpatia e
boa vontade para com o Brasil.
Não faz tanto tempo assim, o ditador da Líbia ameaçou destruir quase
toda a Europa ocidental com mísseis
soviéticos que abasteciam a Guerra
Fria. Lembro que foi marcada data,
hora e local para o primeiro míssil
que estouraria no centro de Roma
-a mesma Roma cujos mictórios
públicos foram taxados por Vespasiano e aumentaram o orçamento do
império.
Todos sabemos que dinheiro, ao
contrário do que o imperador pensava, tem cheiro. Costuma cheirar maravilhosamente para quem tem e, por
outros motivos, cheira maravilhosamente para quem não tem. A questão
é saber que tipo de nariz se dispõe a
cheirar o dinheiro. Em alguns casos,
deve-se tampar o nariz.
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