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ARRECADAÇÃO E SUPERÁVIT
Os dados sobre a arrecadação
de tributos federais do ano
passado deveriam servir para uma reflexão aprofundada sobre o nível de
superávit primário (receitas menos
despesas, antes dos juros) que o poder público deve dispor-se a obter
neste ano de 2003. Pelo que se sabe, o
Ministério da Fazenda cogita de aumentar essa meta, hoje fixada em
3,75% do PIB no Orçamento e no
mais recente acordo do Brasil com o
Fundo Monetário Internacional.
Mais uma vez, a arrecadação bateu
recordes. Totalizou R$ 284 bilhões,
um aumento real (descontada a inflação) de quase 9% sobre o montante arrecadado em 2001. Numa economia perto da estagnação -o PIB brasileiro terá crescido algo em torno de
1,5% no ano passado-, a massa de
contribuintes perdeu poder de compra, investimento e poupança para
que o Estado, notadamente o governo central, tentasse fazer frente à sua
crescente despesa financeira.
Mas, mesmo tendo se esmerado no
arrocho fiscal e na contenção do gasto, o governo brasileiro não conseguiu estabilizar a sua dívida.
O novo salto na arrecadação, voltando aos números da Receita Federal, foi obtido em 2002 à custa de expedientes que não se repetirão neste
2003. Se fossem excluídos esses recursos extraordinários, a arrecadação de 2002 teria caído em relação ao
ano anterior. A estagnação econômica produziu seus efeitos na queda de
10% na arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados e na
diminuição de 23% nos recursos obtidos pelo Imposto de Importação.
Ou seja, para manter a arrecadação
do ano passado, dentro de uma perspectiva de permanência do baixo
crescimento, o governo federal terá
de "fabricar" novos expedientes tributários, seja por meio da melhoria
da máquina arrecadadora, seja por
meio do aumento da taxação.
Trata-se de uma incerteza que recomendaria boa dose de cautela nos
que pretendem, a título de tentar
agradar ainda mais aos ditos "mercados financeiros", aumentar a meta
de recursos que o setor público deve
poupar para pagar juros.
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